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Sindicalista diz que a
reforma é descartável
DA REPORTAGEM LOCAL
A maior confederação sindical
francesa, a CGT, diz que mais
crescimento econômico e menos
desemprego bastariam para que a
reforma da Previdência fosse hoje
desnecessária. Eis a entrevista de
Maryse Dumas, da direção nacional daquela entidade.
(JBN)
Folha - Por que tanto protesto pelo aumento do tempo de contribuição dos funcionários públicos?
Maryse Dumas - É bem mais que
isso. Antes de 1993, todos os assalariados precisavam contribuir
37,5 anos para se aposentar. Uma
primeira reforma elevou a contribuição a 40 anos para o setor privado. O aumento da contribuição
do funcionalismo é apenas um aspecto da questão.
Folha - Quais os outros aspectos?
Dumas - O projeto oficial exige
que a partir de 2008 todos contribuam por 41 anos. E por 42 anos a
partir de 2012.
Folha - Diante do envelhecimento da população, há alternativa?
Dumas - A aposentadoria não é
um problema isolado. Uma política mais agressiva de crescimento econômico afastaria o temor de
déficit na Previdência. Com uma
taxa de desemprego de apenas
3%, as contribuições seriam suficientes para que todos se aposentassem aos 60 anos de idade.
Folha - O governo só quer retardar a aposentadoria?
Dumas - Não. O projeto também
traz a redução no poder aquisitivo
dos mais velhos. Cada ano a menos que o trabalhador contribuir
representa 5% de desconto no valor da aposentadoria.
Folha - Não é para desestimular
aposentadorias precoces?
Dumas - Seria verdade se a vida
profissional não sofresse sobressaltos. Os períodos de desemprego ou de emprego parcial são incluídos de forma depreciativa no
cálculo do valor final da aposentadoria. O assalariado com mais de
50 anos é muitas vezes descartado
das empresas. A renda precária se
dá, então, ao final da carreira.
Folha - Que proposta a CGT faz?
Dumas - Queremos o direito à
aposentadoria aos 60 anos. Defendemos ainda mudanças na
forma de cálculo do tempo de
contribuição, de modo a contar os
anos de estudo e o dos primeiros
estágios profissionais.
Folha - Como então o governo argumenta que a aposentadoria aos
60 anos geraria déficit de caixa?
Dumas - Porque há uma malícia
em enxergar essa questão isoladamente. Nós propomos, por exemplo, que, para efeito de cálculo de
contribuição, também se descontem benefícios como participação
nos lucros ou vantagens indiretas.
Folha - O governo quer diminuir a
participação do Estado?
Dumas - O Estado apenas fixa as
regras de funcionamento da Seguridade Social. A gestão dos recursos, e isso há mais de 50 anos, é
feita por representantes dos trabalhadores e empresários. Mas o
papel desse mecanismo pode diminuir caso se criem fundos de
pensão. Rompe-se, com eles, a solidariedade, pela qual os que contribuem mais acabam beneficiando a aposentadoria dos que contribuíram menos.
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