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ORIENTE MÉDIO
À Folha, Hariri diz que só apoiará a iniciativa se Israel se retirar das áreas "palestinas, sírias e libanesas"
Plano põe Sharon à prova, diz premiê libanês
GUSTAVO CHACRA
DA REDAÇÃO
O premiê do Líbano, Rafik Hariri, afirma que o premiê de Israel,
Ariel Sharon, está se posicionando a favor da paz. Porém, segundo Hariri, "o tempo dirá se esse é
um comprometimento real".
Segundo Hariri, seu país somente irá apoiar o plano de paz
capitaneado pelo presidente dos
EUA, George W. Bush, se Israel se
retirar das áreas "palestinas, sírias
e libanesas" ocupadas.
As declarações foram dadas em
entrevista por e-mail à Folha antes de sua viagem ao Brasil. Ele desembarcaria em São Paulo ontem.
Um dos homens mais ricos do
mundo, Hariri gosta de pagar as
suas viagens com o próprio dinheiro. Nascido em Sidon, no sul
do Líbano, em 1944, o premiê viveu cerca de duas décadas na Arábia Saudita, onde fez a sua fortuna
na construção civil. Em 1992, Hariri assumiu o cargo de premiê,
que exerce até hoje, exceto pelo
período entre 1998-2000.
Responsável pela reconstrução
de Beirute, Hariri é acusado de ter
levado o país a um enorme déficit
público com o dinheiro empregado na obra. Sofre também suspeitas de corrupção. Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha - Após a reconstrução de
Beirute, podemos dizer que a capital libanesa voltou a ser o que era
antes da Guerra civil (1975-90)?
Rafik Hariri - Não exatamente.
Tomamos todos os cuidados para
restaurar os aspectos arquitetônicos fundamentais e originais da
cidade. Hoje Beirute voltou a ter a
sua vibrante e colorida vida noturna, que em outros tempos fez a
cidade ser a "Paris do Oriente".
Folha - Beirute está perdendo espaço como centro financeiro e da
mídia no mundo árabe?
Hariri - O Líbano é o mais ocidentalizado dos países árabes do
Oriente Médio. Sua localização
geográfica única, no encontro de
três continentes, no Mediterrâneo, favorece o desenvolvimento
do comércio exterior. Essa é uma
antiga vocação do Líbano, que foi
a terra dos fenícios, os mais famosos comerciantes da Antiguidade.
Folha - Por que o Líbano não
apóia o novo plano de paz para o
Oriente Médio?
Hariri - O Líbano sempre foi a favor do dialogo para conseguir a
paz. Mas depende muito do esforço que a administração norte-americana irá dedicar à implantação do plano de paz e ao trabalho
de convencer as autoridades israelenses a desocupar territórios
dos palestinos, sírios e libaneses.
Folha - Os EUA estão pressionando o Líbano a conter o Hizbollah?
Hariri - O Hizbollah é um partido político atuante na democracia
libanesa. Ajudou-nos muito a liberar o sul do país e agora está desempenhando um papel importante na nossa vida política.
Folha - O sr. teme que Israel invada o Líbano novamente?
Hariri - O Líbano é a favor da paz
e do diálogo. Estamos sempre
prontos a conversar. No momento, Ariel Sharon está se posicionando a favor da paz. O tempo dirá se esse é um comprometimento real. As autoridades israelenses
têm de se convencer de que devem sair dos territórios ocupados.
Folha - Quais os resultados da
guerra no Iraque?
Hariri - Após o conflito no Iraque, o mundo árabe deve estar
pronto para encarar a nova realidade e os novos desafios de forma
séria e responsável. O Iraque deverá poder escolher o seu próprio
destino, através de eleições livres.
Folha - Quando as forças sírias
sairão do Líbano?
Hariri - A premissa dessa questão não é correta. O Líbano e o povo libanês ganharam quando escolheram a vida, e não a morte, o
futuro, e não o passado, a paz, e
não a guerra. A Síria ajudou o Líbano a reconstruir os seu país, garantindo um estado de segurança
e estabilidade. As tropas sírias vieram ao Líbano a convite das autoridades libanesas. A nossa soberania está garantida pelo Estado libanês, por nossas instituições democráticas, incluindo o Parlamento, o gabinete de ministros,
assim como as forças de segurança internas e o Exército.
Folha - Há risco de outra guerra
civil no Líbano? Os cristãos e muçulmanos estão vivendo em paz?
Hariri - A nossa Constituição
respeita todas as etnias e religiões
do país. Após a reconstrução, tenho certeza de que o povo libanês
está pronto para administrar o
seu futuro de forma pacífica.
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