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AMÉRICA LATINA
Para analista paraguaio, todas as forças políticas vislumbram ganhos com o isolamento do presidente
Todos no Paraguai tentam capitalizar crise
OTÁVIO DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Todas as principais forças políticas do Paraguai enxergaram a
oportunidade de obter algum ganho político ao se unirem, na última quinta-feira, para aprovar, na
Câmara dos Deputados, o início
do processo de impeachment do
presidente Luis González Macchi.
Assim, grupos políticos rivais
-oviedistas, liberais e colorados
governistas-, movidos por interesses absolutamente distintos,
convergiram para isolar o chefe
do governo paraguaio.
A análise é do cientista político
Jose Nicolás Morinigo, professor
de teoria política da Universidade
Católica de Assunção e diretor do
Gabinete de Estudos de Opinião.
A abertura do processo de impeachment de González Macchi,
que não estava na ordem do dia
da Câmara paraguaia, foi aprovada com 50 votos a 0, apesar de o
Partido Colorado (situação) possuir maioria na casa. Onze deputados se abstiveram, e 19 não
compareceram. Agora, a proposta será analisada pelo Senado, a
quem caberá tomar uma decisão
final.
A proposta tem como base uma
série de denúncias de corrupção,
como o desvio de US$ 16 milhões
para uma conta em Nova York e a
compra de um BMW roubado no
Brasil. Mas foi a impopularidade
do presidente, agravada pela crise
econômica que o Paraguai atravessa, o principal motivo de seu
isolamento político.
"Ninguém quer parecer amigo
de um presidente tão desprestigiado a apenas alguns meses das
eleições de abril de 2003", disse
Morinigo. Leia entrevista concedida por telefone, de Assunção.
Folha - Quem está por trás da
abertura do processo de impeachment pela Câmara?
Jose Nicolás Morinigo - Não é
simples responder. Por um lado,
pode estar por trás o ex-general
Lino Oviedo, num acordo com o
PLRA (Partido Liberal Radical
Autêntico). Condenado a dez
anos de prisão por uma tentativa
de golpe em 1996 e impedido de
disputar as eleições, Oviedo tenta
obter o afastamento do presidente da República e a eleição pelo
Congresso de um vice-presidente
que o anistie, abrindo caminho
para o fim de seu exílio no Brasil.
Por outro lado, deputados do
Partido Colorado ligados ao governo também votaram a favor
do impeachment pois, do contrário, ficariam atados a um presidente que tem muito pouca credibilidade devido às acusações de
corrupção e à crise econômica.
Assim, houve uma coincidência
de interesses entre forças políticas
antagônicas. Agora, saber quem
sairá beneficiado depende do que
acontecer no Senado.
Folha - A legislação permite ao
Congresso escolher um novo vice?
Morinigo - Sim. Como o vice Julio Cesar Franco (liberal) renunciou para se candidatar à Presidência, o Congresso tem poderes
para nomear um substituto para
terminar seu mandato.
Folha - Qual seria o interesse do
Partido Liberal, que tem o ex-vice
Cesar Franco como candidato com
chances de vitória, em abrir caminho para a volta de Oviedo, líder
nas pesquisas na opinião?
Morinigo - Não creio muito na
possibilidade de vitória de Cesar
Franco, mas pode haver um acordo entre o candidato liberal e
Oviedo no sentido de que uma
eventual anistia permitiria ao ex-general retornar ao país em troca
de uma renúncia de suas pretensões presidenciais. Oviedo exerceria uma influência muito forte,
seria uma espécie de eminência
parda do governo, o que, aliás, ele
sempre foi.
Folha - Já os colorados próximos
ao governo estariam tentando se
livrar do peso de González Macchi?
Morinigo - Sim, é possível que os
colorados governistas levem a
melhor se conseguirem demonstrar que estão distanciados do
presidente e, ao mesmo tempo,
colocarem na Presidência alguém
como o atual presidente do Congresso, Juan Carlos Galaverna, alinhado à candidatura do presidente do partido, Nicanor Duarte
Frutos.
Folha - O impeachment deve
prosperar no Senado?
Morinigo - Acho difícil. Na Câmara, cada partido jogou segundo seus próprios interesses. Os
oviedistas queriam demonstrar
que têm força para gerar um movimento sísmico político. Os liberais queriam provar que têm capacidade de protagonismo político. E os governistas colorados
queriam mostrar que também
não são amigos do presidente, já
que ninguém quer ser amigo de
um presidente tão desprestigiado.
Mas, no momento de uma decisão final no Senado, interesses
muito fortes estarão em jogo e
não creio numa convergência de
interesses como a que ocorreu
durante a votação na Câmara.
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