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São Paulo, domingo, 09 de março de 2003

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Líder curdo defende "autonomia"

DA AGÊNCIA FOLHA

Embora afirme preferir uma solução diplomática para a crise entre Washington e Bagdá, o líder curdo iraquiano Fawzi Hariri já faz planos para um Iraque pós-Saddam e diz que o governo regional curdo está preparado para evitar uma fuga em massa de seu povo para as montanhas turcas e iranianas, como ocorreu depois da Guerra do Golfo (1991).
Hariri é assessor de Relações Internacionais do KDP (Partido Democrático do Curdistão) e filho de Franso Hariri, líder curdo assassinado em 2001 no norte do Iraque. A seguir, sua entrevista à Agência Folha. (EDS)
 
Agência Folha - Os curdos já decidiram se irão apoiar militarmente os EUA em uma eventual guerra contra Bagdá?
Fawzi Hariri -
A nossa esperança é que haja uma solução pacífica. Somos contrários à guerra, pois sofremos com elas nos últimos 40 anos. Estamos discutindo com os EUA apenas garantias no caso de um contra-ataque de Saddam. Nossas forças estão armadas de forma tímida. Teremos uma função apenas após a remoção de Saddam.

Agência Folha - Após a Guerra do Golfo, milhares de curdos fugiram do Iraque temendo uma vingança de Saddam. O êxodo se repetirá?
Hariri -
Os eventos de 1991 não vão se repetir. Agora, temos um governo regional que busca estabelecer uma infra-estrutura para lidar com refugiados. Há ONGs atuando em nossas áreas que têm experiência nessas situações e ainda temos a ONU aqui como garantia aos direitos humanos. Em 1991, na Guerra do Golfo, não havia nada disso.

Agência Folha - Caso Saddam realmente seja deposto, qual será o papel dos curdos em um novo governo iraquiano?
Hariri -
Nossa visão é de uma federação iraquiana democrática. Acreditamos que o povo do Iraque já sofreu demais nas mãos de Saddam.

Agência Folha - Após essa eventual guerra, os curdos iraquianos imaginam estabelecer um Estado independente. Isso seria possível aos olhos norte-americanos em um local rico em petróleo?
Hariri -
Os curdos do Iraque nunca demandaram um Estado independente, embora nós hoje usufruamos de uma gestão própria. Nosso slogan sempre foi "democracia para o Iraque e autonomia para o Curdistão". O petróleo será controlado pelo novo governo iraquiano em Bagdá.

Agência Folha - Depois da guerra civil curda, que atravessou os anos 90, como estão as relações entre KDP e PUK?
Hariri -
O conflito interno terminou oficialmente em setembro de 1998. Nossa competição atual é para ver quem possui os melhores serviços de estradas, telecomunicações, cafés com internet.

Agência Folha - E a motivação dos EUA para uma guerra contra Saddam?
Hariri -
Talvez o petróleo não seja a razão principal. O terrorismo também não é um motivo forte, pois há pequenas evidências de envolvimento direto entre o regime iraquiano e grupos terroristas. A principal razão é ambição de Saddam de construir um grande arsenal de armas nucleares.



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