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Líder curdo defende "autonomia"
DA AGÊNCIA FOLHA
Embora afirme preferir uma solução diplomática para a crise entre Washington e Bagdá, o líder
curdo iraquiano Fawzi Hariri já
faz planos para um Iraque pós-Saddam e diz que o governo regional curdo está preparado para
evitar uma fuga em massa de seu
povo para as montanhas turcas e
iranianas, como ocorreu depois
da Guerra do Golfo (1991).
Hariri é assessor de Relações Internacionais do KDP (Partido Democrático do Curdistão) e filho
de Franso Hariri, líder
curdo assassinado em
2001 no norte do Iraque.
A seguir, sua entrevista à
Agência Folha.
(EDS)
Agência Folha - Os curdos já decidiram se irão
apoiar militarmente os
EUA em uma eventual
guerra contra Bagdá?
Fawzi Hariri - A nossa
esperança é que haja
uma solução pacífica.
Somos contrários à
guerra, pois sofremos
com elas nos últimos 40
anos. Estamos discutindo com os EUA apenas
garantias no caso de um contra-ataque de Saddam. Nossas forças
estão armadas de forma tímida.
Teremos uma função apenas após
a remoção de Saddam.
Agência Folha - Após a Guerra do
Golfo, milhares de curdos fugiram
do Iraque temendo uma vingança
de Saddam. O êxodo se repetirá?
Hariri - Os eventos de 1991 não
vão se repetir. Agora, temos um
governo regional que busca estabelecer uma infra-estrutura para
lidar com refugiados. Há ONGs
atuando em nossas áreas que têm
experiência nessas situações e
ainda temos a ONU aqui como
garantia aos direitos humanos.
Em 1991, na Guerra do Golfo, não
havia nada disso.
Agência Folha - Caso Saddam
realmente seja deposto, qual será
o papel dos curdos em um novo governo iraquiano?
Hariri - Nossa visão é de uma federação iraquiana democrática.
Acreditamos que o povo do Iraque já sofreu demais nas mãos de
Saddam.
Agência Folha - Após essa eventual guerra, os curdos iraquianos
imaginam estabelecer um Estado
independente. Isso seria possível
aos olhos norte-americanos em um
local rico em petróleo?
Hariri - Os curdos do Iraque
nunca demandaram um Estado
independente, embora nós hoje
usufruamos de uma gestão própria. Nosso slogan sempre foi
"democracia para o Iraque e autonomia para o Curdistão". O petróleo será controlado pelo novo
governo iraquiano em Bagdá.
Agência Folha - Depois da guerra
civil curda, que atravessou os anos
90, como estão as relações entre
KDP e PUK?
Hariri -O conflito interno terminou oficialmente em setembro de
1998. Nossa competição atual é
para ver quem possui os melhores
serviços de estradas, telecomunicações, cafés com internet.
Agência Folha - E a motivação dos
EUA para uma guerra contra Saddam?
Hariri - Talvez o petróleo não seja a razão principal. O terrorismo
também não é um motivo forte,
pois há pequenas evidências de
envolvimento direto entre o regime iraquiano e grupos terroristas.
A principal razão é ambição de
Saddam de construir um grande
arsenal de armas nucleares.
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