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CÚPULA DA ALIMENTAÇÃO
Apesar da produção abundante de alimentos, 1 em cada 7 pessoas não tem o que comer
Mundo fracassa contra a fome
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
Um enorme fracasso. Essa é a
forma como a ONU define a luta
contra a fome no mundo hoje.
Embora sejam produzidos mais
alimentos que o necessário para
atender as necessidades do planeta, ao menos 800 milhões de pessoas -mais de 1 em cada 7-
passam fome ou não podem se
alimentar devidamente. Dessas,
mais de 95% estão em países em
desenvolvimento, a maioria na
Ásia e na África subsaariana.
Líderes e representantes de
mais de 180 países, entre eles chefes de Estado da América Latina,
participam a partir de amanhã,
em Roma, da Cúpula Mundial da
Alimentação: Cinco Anos Depois
para reiterar seu compromisso
com o objetivo de salvar cerca de
400 milhões de pessoas da fome
até o final de 2015.
Se a intenção sair do papel, a redução anual necessária será de
28,5 milhões de pessoas desnutridas. O problema é que, desde a última cúpula, em 1996, só 6 milhões, em média, deixaram de enfrentar anualmente a desnutrição;
o déficit entre a redução conseguida e a necessária está crescendo. A manter-se o ritmo atual, serão necessários mais de 65 anos
para cumprir a meta.
"Nós sabemos muito bem o que
fazer, só falta vontade política",
disse à Folha, de Roma, Andrew
MacMillan, diretor de operações
da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, a FAO, que está organizando o encontro (leia texto abaixo).
Jacques Diouf, diretor-geral da
FAO, convidou o mundo a formar "uma coalizão contra a fome
semelhante à antiterrorismo" que
surgiu após os ataques em Nova
York e nos arredores de Washington, em 11 de setembro. A cúpula
estava programada para o início
de novembro de 2001, mas foi
adiada por causa dos atentados.
"Com as telecomunicações,
transportes, internet e TV, é inconcebível que, em algumas partes do mundo, haja pessoas tão ricas e, em outras, pessoas morrendo de fome", disse Diouf.
Entre os locais onde o problema
é mais grave, estão o sul da África
(em seis países, quase 13 milhões
estão ameaçados pela fome no
curto prazo), o Afeganistão, o
Zimbábue, a Coréia, a Cisjordânia
e a faixa de Gaza, segundo a FAO.
Há quem defenda que a resolução final do encontro, que vai até
quinta-feira, inclua um apelo para
a criação de um código de conduta sobre o "o direito à alimentação
adequada para todos".
Para Diouf, "um código de conduta daria aos pobres e desamparados condições de exigir responsabilidades aos governos e outros
protagonistas desses temas".
A União Européia, o Vaticano e
países em desenvolvimento endossaram o conceito, mas os EUA
ainda se opõem a ele. A medida
dificultaria a manutenção de embargos econômicos, como os
atuais contra Cuba e o Iraque.
Organizações não-governamentais, que celebrarão um fórum paralelo, prometem protestos contra a fome, ao qual devem
se juntar movimentos antiglobalização. Mais de 5.000 policiais estão mobilizados para garantir a
segurança dos chefes de Estado e
de governo, além de ministros, incluindo o brasileiro Marcus Vinicius Pratini de Moraes (Agricultura), que confirmaram presença.
Seis anos atrás, autoridades de
mais de 180 países expressaram a
vontade política e o compromisso
de assumir como uma obrigação
moral e política a redução para a
metade, até 2015, do número de
pessoas para as quais o direito à
alimentação não é mais que uma
utopia. Resta esperar que a cúpula
dê um impulso à mobilização de
recursos econômicos (a ONU pede pelo menos US$ 24 bilhões em
investimentos adicionais) e ao
compromisso político fundamentais para atingir a meta almejada.
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