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Relatório sobre
o Brasil critica
a desigualdade
DA REDAÇÃO
O principal obstáculo para
o desenvolvimento do Brasil
continua sendo o elevado
grau de concentração da
renda, que se apresenta bem
acima da média dos padrões
internacionais. A afirmação
consta do relatório (ao qual a
Folha teve acesso) que a delegação brasileira, chefiada
pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcus Vinicius Pratini
de Moraes, levará à cúpula.
"Apesar da melhoria de
muitos indicadores sociais,
sabe-se que a concentração
de renda no país ainda é
muito acentuada e que os níveis médios de remuneração
dos 10% mais pobres da população continuam muito
baixos, em torno de US$ 17,
o que compromete o nível de
consumo alimentar", diz o
documento, segundo o qual
"morrem anualmente cerca
de 80 mil crianças antes de
completar um ano de idade e
metade desses óbitos está relacionada com a fome e com
a desnutrição". Denise Coitinho, 41, diretora da política
de alimentação e nutrição do
Ministério da Saúde, explica
que a ONU considera que
50% da mortalidade infantil
esteja ligada à desnutrição.
O padre João Roque Rohr,
61, vai divulgar em Roma o
documento da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil) "Exigências Evangélicas e Éticas de Superação
da Miséria e da Fome", que
alega que "as raízes da fome
estão, especialmente, na distribuição iníqua da renda".
O representante da FAO
no Brasil, José Tubino, 54,
diz que a agência da ONU
considera positivos alguns
programas brasileiros, mas
ressalta que "a FAO prefere
as iniciativas de geração de
emprego e renda em vez de
políticas compensatórias".
Tubino critica o "efeito nocivo" das propagandas na
mudança dos hábitos alimentares no Brasil. "Enquanto o produtor de leite
enfrenta uma crise crônica
por causa de preços baixos, o
consumo de refrigerantes
aumentou drasticamente
nos últimos dez anos", diz.
"A educação alimentar nutricional talvez não esteja
compensando suficientemente a força da publicidade, que tenta promover produtos comerciais que não
são necessariamente produtos nutritivos", explica.
Para Flavio Luiz Schieck
Valente, 53, que vai representar o Fórum Brasileiro de
Segurança Alimentar e Nutricional, "é fundamental
que o Brasil apóie na cúpula
a criação de um código de
conduta sobre o direito humano à alimentação".
Os especialistas divergem
quanto ao número de pessoas que não têm renda suficiente para garantir alimentação adequada no país.
De acordo com o Banco
Mundial, o Brasil possui 15
milhões de miseráveis. São
pessoas cuja renda não ultrapassa o equivalente a um
dólar por dia.
O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)
trabalha com o número de
22 milhões de indigentes.
Chegou a essa cifra traçando
uma linha abaixo da família
mais pobre que satisfaz seu
requerimento nutricional. O
Instituto Cidadania (ONG ligada ao PT) estima em 44
milhões, e o Centro de Políticas Sociais da FGV tem o número mais alto: 50 milhões
de pessoas extremamente
pobres.
(PDF)
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