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Armas estão proibidas na tenda da Loya Jirga
DA AGÊNCIA FOLHA
Uma das mais peculiares instituições afegãs, a Loya Jirga será
realizada em uma tenda gigante
climatizada, de 2.800 metros quadrados, trazida da Alemanha
-onde serviu à Oktoberfest, o
festival da cerveja de Munique.
Lá, seus 1.501 delegados irão se
reunir para debater o novo governo, as indicações para o gabinete e
os procedimentos para a confecção da nova Constituição.
A megatenda será instalada no
campus da Politécnica de Cabul,
amontoado de prédios semidestruídos que receberam algumas
demãos de tinta para o evento.
Nos sete dias de debate, sobre
tapetes e almofadas (embora mesas e cadeiras estejam disponíveis), os delegados não estarão
autorizados a portar armas ou a
trazer seguranças armados.
É uma mudança e tanto para os
padrões de discussão afegãos.
Quando o Taleban caiu, em novembro, a Folha testemunhou
uma mini-Loya Jirga em Jalalabad. Eram cerca de 50 líderes
pashtus do leste afegão. Nenhum
tinha menos que quatro homens
armados com fuzis Kalashnikov e
lança-foguetes ao seu lado.
A tensão das discussões lembrava aquela dos dignitários árabes
reunidos em Damasco após a derrota otomana para os ingleses na
Primeira Guerra, retratada no filme ""Lawrence da Arábia". Briga
para cada pequeno item.
A coisa quase descambou para
guerra civil, só evitada porque a
Aliança do Norte aceitou se aliar
aos pashtus do leste.
Há algumas regras para poder
participar dos debates, como
nunca ter matado ""alguém inocente" e não estar ligado a nenhum grupo violento ou a atividades ilícitas como o narcotráfico.
Aparentemente, as exigências são
mais formais do que reais.
Dos 1.501 participantes, 1.051 foram escolhidos pelo voto, em 370
distritos eleitorais. Sobraram acusações de fraude e de compra de
votos, mas os monitores da ONU
deram sinal verde para o processo
continuar. Diversos pedaços da
sociedade afegã, como clérigos,
cientistas, mulheres e refugiados,
terão participação.
A origem da Loya Jirga remonta
ao século 18, quando foram estabelecidos os primeiros conselhos
tribais. A mais famosa delas ocorreu em 1747 e proclamou o primeiro rei do Afeganistão. Era Ahmad Shah Durrani, que, segundo
a lenda, foi o único líder presente
a não proferir uma palavra sequer
nos nove dias de debate.
Em 1773, a Loya Jirga foi chamada de forma secreta -e, secretamente, todos os seus integrantes
foram mortos pelo desconfiado
rei Zaman Shah. Em 1928, o rei
Amanullah pediu à sua mulher, a
rainha Soraya, para tirar o véu em
plena Loya Jirga. Queria apoio às
suas propostas modernizantes e
acabou gerando uma revolta.
O ex-rei Zahir Shah, que vai liderar a nova Loya Jirga por ser
considerado o mais velho e sábio
presente, presidiu a última reunião do gênero, em 1964, para definir a adoção de uma Constituição parlamentarista. Havia presidido outras, como a de 1955, que
decidiu pelo pedido de ajuda à então União Soviética.
(IG)
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