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AMÉRICA LATINA
Taxa dobra na década de 90; para especialistas, desestruturação familiar devido à crise no país explica alta
Suicídio de jovens argentinos dispara
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
O número de suicídios entre jovens na Argentina praticamente
dobrou na década de 90, período
em que o país começou a sofrer
sua atual derrocada econômica.
De acordo com o Ministério da
Saúde do país, a taxa de suicídios,
que era de 4,7 para cada 100 mil
habitantes na faixa entre 10 a 19
anos em 1990, cresceu para 8,3
por 100 mil em 2000. Hoje, o país
registra cinco suicídios semanais.
Para especialistas, o crescimento representa um dos lados mais
sombrios da crise. A Argentina,
que chegou a ser considerada pelo
FMI (Fundo Monetário Internacional) um exemplo a ser seguido
pelos países em desenvolvimento,
transformou-se na "ovelha negra" mundial, segundo o próprio
presidente Eduardo Duhalde.
O coordenador do Centro de
Assistência ao Suicida, Carlos Boronat, disse à Folha que essa crise
desencadeou um processo de destruição de valores, como a família.
Para ele, os chefes de família encontram-se ou bastante preocupados em manter seu emprego ou
desempregados. O nível de tensão
acaba por reduzir a comunicação
entre pais e filhos, o que, em casos
de adolescentes que já possuem
tendência de autodegradação,
acaba sendo fatal.
Boronat explicou que o processo acontece em etapas. Primeiro,
o jovem entra em depressão frente aos problemas que não consegue solucionar. Depois, com a falta de perspectivas futuras, o adolescente pode responder inadequadamente aos problemas.
"Os jovens ainda estão em formação, não têm elementos suficientes para tomar decisões e precisam estar acompanhados por
adultos em certas situações.
Quando os adultos faltam, cresce
a possibilidade do suicídio."
Para Carlos Martínez, presidente da Associação de Prevenção ao
Suicídio, o aumento dos casos
também pode ser explicado pela
destruição de outros valores existentes nos jovens, além da família.
"No começo da década, a cultura da corrupção afetou o sistema
de valores sociais, tirou o sentido
das instituições tradicionais. Mas,
agora, os sintomas são mais graves, porque não restam nem as
lembranças daqueles valores."
Para ele, as pessoas ficam mais
vulneráveis nesse contexto a algum tipo de resposta autodestrutiva. "Se até agora havia ideais,
ainda que sejam econômicos, e isso desaparece, ao que as pessoas
podem se apegar?"
Outro destino cada vez mais frequentes entre jovens é a emigração. Segundo pesquisas recentes,
140 mil argentinos abandonaram
o país desde 2000. Hoje, 22% da
população estuda procurar uma
vida melhor em outro país.
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