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Sistema bancário é o ponto fraco da economia
DA REDAÇÃO
Nos últimos quatro anos, as sucessivas decisões de colocar bancos japoneses em observação, tomadas por agências de classificação de risco de crédito -que medem a capacidade de países e de
empresas de honrar suas dívidas-, provocam pânico no mercado financeiro e evidenciam um
dos mais graves problemas do Japão: o sistema bancário é o calcanhar-de-aquiles de sua economia
por conta do enorme volume de
créditos duvidosos que concedeu.
Os números são impressionantes. Os bancos ainda têm por volta
de US$ 350 bilhões em créditos
duvidosos atualmente, segundo
estatísticas oficiais, após já terem
posto cerca de US$ 700 bilhões
(valor bem superior ao PIB -total de riquezas- do Brasil de
2002, que foi de US$ 451 bilhões)
na conta de despesas com devedores duvidosos desde 1992.
Em termos práticos, isso representou um colossal calote aplicado aos bancos e repassado ao governo, que deve zelar pela saúde
das instituições financeiras. Estas
são o motor de qualquer economia. "O governo deve garantir aos
mercados que não deixará o sistema financeiro ruir em razão dos
empréstimos concedidos pelos
bancos, muitas vezes em troca de
favores políticos", explicou à Folha Robert Immerman, da Universidade Columbia (Nova York).
Em condições normais, bancos
não assumem riscos desmesurados e, para tanto, analisam a saúde financeira de quem lhes pede
empréstimo. Porém, segundo Tadashi Anno, da Universidade Sophia (Tóquio), "no clima embriagante do final dos 80, essa regra
básica era ignorada no Japão".
"A ajuda que o Ministério das
Finanças costumava dar ao setor
bancário agravou o problema, já
que permitiu o surgimento do
"risco moral" de autorizar tacitamente os bancos a fazer empréstimos sem se preocupar com as
consequências", analisou Anno.
"Quando a bolha explodiu, nos
90, empresas que haviam comprado ações ou imóveis acabaram
com um enorme ativo depreciado. Já os bancos terminaram com
créditos duvidosos nas mãos. Assim, o sistema financeiro, que dá
vida à economia, ficou em crise."
Abalado pela explosão da bolha
especulativa (também por conta
de empréstimos dados no Sudeste
Asiático), o sistema bancário só se
degradou. O primeiro plano de
recuperação, lançado em 1998, foi
ineficaz, e a política de baixíssimas taxas de juros (ou de 0%, como a atual) agravou a situação.
Afinal, deu aos bancos japoneses a possibilidade de "carregar"
os créditos duvidosos (provisões)
quase gratuitamente, o que retardou o oneroso ajuste contábil de
passá-los para a conta de despesas
com devedores duvidosos. Assim,
a estagnação econômica se instalou num clima de incerteza política, ineficácia do sistema bancário
e aumento do déficit público.
Segundo o FMI, a dívida pública
líquida japonesa é de 72% de seu
PIB (US$ 3,55 trilhões em 2002, na
paridade de poder de compra).
Para piorar o quadro, segundo
Jon Mills, professor na Universidade Harvard, parte dos créditos
duvidosos não pode ser cobrada,
pois foi concedida a "grupos ligados à Yakuza", a máfia japonesa.
Ademais, outra parcela substancial dos créditos teria de ser cobrada de empresas que já estão
perto da falência e pertencem, ao
menos parcialmente, aos próprios conglomerados bancários.
Analistas financeiros temem
que futuras degradações das classificações de risco de crédito dos
bancos os obriguem a cobrir o
rombo com fundos próprios, o
que poderia levá-los à falência.
O governo ainda dispõe de fundos para ajudar os bancos a enfrentar a crise. Segundo analistas,
a soma supera US$ 300 bilhões.
Porém o premiê Junichiro Koizumi e seu poderoso ministro das
Finanças, Heizo Takenaka, parecem ser avessos a essa opção por
conta do crescente déficit fiscal.
Segundo especialistas, resta saber se há vontade política para
deixar as empresas deficitárias terem "morte natural". Isso só será
respondido após a eleição.
(MSM)
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