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CONSUMO
Com mercado em alta, opções incluem até DVD que ensina a contar em russo
Mídia para bebês vira febre nos EUA
TAMAR LEWIN
DO ""NEW YORK TIMES"
Meia hora antes de ir para a cama, John Hill-Edgar está em sua
cadeirinha de bebê assistindo ao
DVD ""Baby Bach", fascinado pelo
som de ""Jesus, Alegria dos Homens" e as imagens de um trenzinho, um bebê e um ursinho de pelúcia que solta bolhas de sabão.
John tem apenas sete meses de
idade e, como muitos bebês americanos no século 21, assiste a vídeos da série ""Baby Einstein" praticamente desde que nasceu.
Nos últimos cinco anos ocorreu
uma explosão na mídia eletrônica
criada para bebês e crianças pequenas: ""Teletubbies", o primeiro
programa de TV criado para
crianças em idade pré-verbal,
""lapware", ou programas de computador para bebês, e centenas de
vídeos e DVDs para essa faixa.
Mais de um quarto das crianças
americanas de menos de dois
anos tem TV no quarto, revelou
um estudo da Fundação Familiar
Henry J. Kaiser A pesquisa constatou que 59% das crianças americanas de seis meses a dois anos
costumam ver TV cerca de duas
horas por dia.
""A última vez que fizemos um
grande estudo sobre crianças e
mídia, cinco anos atrás, não pensamos em pesquisar as crianças
de menos de dois anos porque
achávamos que não se aplicava a
elas", conta a autora principal do
estudo, Vicky Rideout. ""Mas essa
situação mudou muito. Se fizermos outra pesquisa, teremos de
começar desde o nascimento."
De acordo com o estudo, 10%
dos bebês americanos de seis meses a dois anos têm controle remoto desenhado para crianças. E
32% deles possuem vídeos da série ""Baby Einstein", criada há oito
anos para expor as crianças a poesia, linguagem, música e arte.
Não há consenso quanto ao
efeito que a mídia eletrônica pode
ter sobre crianças pequenas. ""Sabemos que os dois primeiros anos
de vida são um período crucial
para o desenvolvimento da criança, mas ainda não fazemos idéia
do impacto dessa mídia toda",
disse Rideout.
O estudo Kaiser foi baseado numa pesquisa telefônica em âmbito
nacional conduzida com 1.065
pais de crianças de seis meses a
seis anos, com margem de erro de
três pontos percentuais para mais
ou para menos.
Aprender a contar em russo
Mais de um terço das crianças
vive em lares nos quais o aparelho
de TV fica ligado quase o tempo
todo, mesmo que não haja ninguém assistindo. Mas é entre os
bebês que se percebe a situação
mais espantosa.
""Uma mãe que trabalha em
nosso escritório tem uma filha de
dois anos que tem uma mesinha
de computador própria. Ela tem
seus games, suas atividades e seus
sites favoritos", contou Rideout.
""É um fenômeno novo. Não sabemos bem quais são os efeitos, mas
há indícios de problemas."
O boom da ""baby media" começou no final dos anos 90, na esteira de uma onda de divulgação
da idéia de que os primeiros anos
de vida são os mais importantes
para o desenvolvimento cerebral.
Capitalizando em cima das
preocupações dos pais, muitos
DVDs e fitas novas são promovidos como ferramentas educativas. A série ""Baby Einstein" traz
poemas e músicas infantis e ensina as crianças a contar em inglês,
espanhol, francês, alemão, italiano, hebraico, japonês e russo, explicando no folheto que ""pesquisas mostram que os bebês possuem a habilidade natural de distinguir e assimilar os sons de todas as línguas, mas essa habilidade se perde à medida que a criança cresce".
Alma Schneider, que ganhou o
vídeo quando sua filha, Ilah Saltzman, tinha alguns dias de idade,
explicou: ""A gente quer se assegurar de que está fazendo o possível
pelo filho, e, como todo o mundo
usa "Baby Einstein", se sentirá culpado se não fizer igual".
Ilah está com três anos, e seu irmão, Levi, acaba de completar um
ano. Schneider hoje tem três fitas
e alguns cartões ""Baby Einstein",
uma fita de ""Teletubbies" e um
sentimento de culpa de outro tipo. ""Sei que eu deveria assistir às
fitas junto com as crianças, mas
fui deixando de fazê-lo aos poucos e passei a usá-las como babá
eletrônica", disse ela. ""Aliás, não
conheço ninguém que fique realmente sentado, assistindo junto."
Tradução de Clara Allain
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