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GUERRA AO TERROR
Ação que matou seis supostos terroristas no Iêmen pode marcar a volta das práticas da CIA dos anos 50 e 60
Ataque da CIA evoca política de assassinatos
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Há duas semanas, um avião
não-tripulado americano Predador da CIA disparou um míssil no
Iêmen, destruindo um jipe com
seis supostos membros da rede
terrorista Al Qaeda. Todos morreram. Para os EUA, foi uma vitória da civilização contra a barbárie. "Terroristas são assassinos e
como tal serão tratados pelos Estados Unidos", disse, dias depois,
o presidente americano, George
W. Bush.
No entanto, para a comunidade
internacional e observadores
americanos independentes, a
operação evoca uma antiga e controversa prática dos serviços de
inteligência americanos.
"Por mais que procuremos pensar que o mundo mudou depois
do 11 de setembro, não dá para
deixar de associar essa operação
no Iêmen à política de assassinatos da CIA praticada há 50 anos",
disse à Folha Jeffrey Smith, ex-conselheiro-geral da CIA e hoje
advogado num dos maiores escritórios de Washington.
Durante as décadas de 50 e 60, a
CIA deu início a uma política de
assassinatos por meio da qual tentou eliminar, direta ou indiretamente, inimigos no Vietnã, em
Cuba e em outros países no
Oriente Médio e na África.
"Quase todas as tentativas falharam e, na minha opinião, contribuíram para moldar o ódio aos
EUA e o antiamericanismo no
mundo", opinou Rhodri Jones,
professor de história americana
na Universidade de Edimburgo,
na Escócia.
"A CIA sentiu-se no direito de
invadir a soberania de outros países e assassinar pessoas sem prendê-las ou julgá-las. Temo que isso
esteja sendo retomado."
Fidel escapou
A política foi um fracasso, como
prova o fato de o ditador cubano,
Fidel Castro, estar vivo. No entanto a repercussão negativa dessa
política em todo o mundo motivou o presidente americano Gerald Ford a bani-la em 1976, por
meio de uma ordem executiva renovada por Ronald Reagan em
1981 e, formalmente, válida até
hoje. A resolução proíbe essas
operações e cria mecanismos internos para executá-la.
Com base nela, os EUA acabaram reorientando sua diretriz e
desenvolveram, ao menos publicamente, uma diplomacia contrária a assassinatos.
Desde então, o Departamento
de Estado tem repetidamente
protestado contra os ataques de
Israel com mísseis a supostos líderes terroristas palestinos .
"Agora, parece que os EUA estão transmitindo a mensagem de
que tais assassinatos voltaram a
ser aceitáveis", disse Smith, o ex-conselheiro da CIA.
Segundo o Departamento de
Estado, a operação no Iêmen não
pode ser classificada como um assassinato porque os EUA estão
em guerra e foram atacados pela
rede Al Qaeda. Seria, portanto,
uma operação de autodefesa no
contexto de uma guerra contra o
terrorismo.
Um dos mortos na operação do
Iêmen, dizem os EUA, era Qaed
Senyan al-Harthi, homem de confiança do terrorista saudita Osama bin Laden. Conhecido como
Abu Ali, al-Harthi teria planejado
o ataque de outubro de 2000 contra o destróier norte-americano
Cole, que causou a morte de 17
marinheiros.
Segundo o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, a ordem executiva banindo
assassinatos continua válida, apesar da operação. E os EUA continuarão protestando contra a eliminação de terroristas palestinos
por Israel. "Não há contradição
alguma", disse ele durante uma
entrevista.
No entanto, considerando a estimativa dos EUA de que a rede Al
Qaeda esteja infiltrada em 72 países no mundo, a experiência no
Iêmen causa apreensão. "Isso deve ser um recurso de último instância. Se os EUA utilizarem tais
assassinatos com frequência, poderíamos entender que houve
uma mudança de política. E, aí, as
consequências podem ser inestimáveis", disse Smith.
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