Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Não vejo problemas em eliminar terroristas"
DE WASHINGTON
Autor de dois best-sellers que
abordam tentativas fracassadas
da CIA de assassinar inimigos ao
redor do mundo, o especialista
americano em inteligência Jeffrey
T. Richelson defende a operação
que matou supostos membros da
Al Qaeda no Iêmen. Segundo ele,
assassinatos não se confundem
com a "eliminação seletiva" de
inimigos em tempos de guerra.
Richelson escreveu "Os Magos de
Langley" e "A Comunidade da Inteligência Americana".
(MA)
Folha - O ataque a seis supostos
terroristas no Iêmen abre uma nova fase nas atividades da CIA?
Jeffrey Richelson - Não. Mesmo
antes de 11 de setembro, já havia
dentro do governo uma distinção
entre assassinar e matar de forma
seletiva ("targeted killing"). Existe
uma ordem executiva da Casa
Branca que proíbe assassinatos.
Isso não impede os EUA - e nenhum outro país- de eliminar
inimigos em tempos de guerra.
Folha - Qual é a diferença entre
assassinar um oponente e "eliminar" um oponente?
Richelson - A linha divisória é a
existência ou não de uma guerra.
É essa a interpretação legal corrente das últimas quatro administrações americanas. Um exemplo:
se os EUA tivessem matado Saddam Hussein durante a Guerra do
Golfo, isso não constituiria um assassinato. Mas teria ocorrido um
assassinato se o tivessem matado
depois da guerra. A recente operação no Iêmen ocorre no contexto da guerra dos EUA contra a Al
Qaeda e contra o terrorismo.
Folha - A Al Qaeda está em 72 países, segundo o Departamento de
Estado. A guerra contra o terror
não acaba com um simples acordo
de paz. Pode ser que dure para
sempre. Seria correto supor que os
EUA abriram precedente para eliminar inimigos em quaisquer desses países, por prazo indefinido?
Richelson - Na guerra contra o
terror, os alvos devem ser pessoas
consideradas líderes da Al Qaeda.
Não deve ser um cheque em branco autorizando os EUA a matar
quem quiser, onde quiser.
Folha - O sr. acha viável os EUA assassinarem um suspeito de terrorismo na região da tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina)?
Richelson - Há países nos quais
os EUA confiam e onde as autoridades policiais e serviços de inteligência funcionam. Não acho que
os EUA queiram produzir cadáveres nas ruas de Paris ou de São
Paulo. Os EUA recorrerão a isso,
em última análise, em países onde
é muito difícil prender essas pessoas, onde não há governo, onde
os Estados falham.
Folha - Mas há um governo constituído no Iêmen...
Richelson - Há governos constituídos em todos os lugares. Mas
isso não significa que sejam legítimos, eficazes ou simpáticos à
guerra contra o terrorismo.
Folha - Qual é a diferença entre a
operação da CIA no Iêmen e os ataques de Israel contra supostos líderes terroristas palestinos?
Richelson - Nenhuma. É por isso
que defendo o fim dessa resolução banindo os assassinatos. Ela
acaba conduzindo para um jogo
semântico de definir assassinatos
e a eliminação seletiva de inimigos. Há hipocrisia por parte dos
EUA quando Colin Powell e outros criticam Israel por fazer o
mesmo que foi feito no Iêmen.
Não vejo problemas em eliminar
terroristas que explodem civis.
Folha - Seu último livro, "Os Magos de Langley", define como um
fracasso a política de assassinatos
dos EUA nas décadas de 50 e 60. O
sr. diz que a CIA agiu como "uma
gangue que não atira direito".
Richelson - Apesar de todos os
esforços, nunca conseguimos matar ninguém nesse período. Fidel
Castro é a prova viva de nosso fracasso. A CIA tentou matá-lo com
toxinas de crustáceos administradas por meio de agulhas, bactérias
em forma líquida, charutos e lenços tratados com bactérias e até
um sobretudo coberto com substância tóxica. Nada funcionou.
Texto Anterior: Guerra ao terror: Ataque da CIA evoca política de assassinatos Próximo Texto: Opinião: Ação no Iêmen é o "tiro limpo" de Bush Índice
|