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COMPORTAMENTO
Cada vez mais meninas assumem o papel de "macho conquistador" e tomam a iniciativa inclusive no sexo
Garotas americanas partem para o ataque
ALEX KUCZYNSKI
DO "THE NEW YORK TIMES"
John Bernard, 16, é um adolescente forte e bonito, cheio de hormônios. Meninos como ele eram
o pesadelo de todo pai. Não mais.
"As meninas são muito mais
agressivas do que os meninos",
afirmou John, em seu intervalo
para almoço na Escola do Futuro,
em Nova York, com algumas meninas à sua volta. "Elas têm mais
atitude. Elas têm mais poder. E
elas dominam mais os homens.
Quero dizer, é assustador."
Depois de meio século no qual
gerações de meninas e mulheres
eram aconselhadas a nem sequer
telefonar para um homem, agora
não só são as adolescentes que fazem as ligações mas também elas
frequentemente dão início às atividades românticas e até sexuais.
"Os adolescentes que eu atendo
dizem que as meninas pressionam por sexo e esperam que eles
peçam sexo, trazendo o assunto à
tona quando os meninos não pedem", declarou Tabi Upton, uma
orientadora no Centro de Saúde
Mental Johnson, em Chattanooga, Tennessee, que atende entre
20 e 30 adolescentes por mês.
Desde Sadie Hawkins [data em
novembro, estabelecida nos anos
30, na qual mulheres tomavam a
iniciativa de convidar homens para sair", as adolescentes têm flertado com os meninos, mas agora
elas estão iniciando um contato
mais íntimo -até mesmo sexual- de maneira mais agressiva, segundo relatos anedóticos de
orientadores, psicólogos, editores
de revistas e adolescentes.
Para Sarah Durrell, 17, que vive
em Haverhill, Massachusetts, todas as suas amigas consideram
normal convidar um menino para sair. "Mulheres não precisam
mais usar saias. Conquistamos
poder e podemos fazer tudo aquilo que quisermos", afirma.
A mãe de Sarah concorda, diz a
adolescente. Seu pai não. "Ele não
se importa com quem convida
quem para sair; ele simplesmente
não gosta de meninos de qualquer jeito", diz Sarah. "Ele sempre
diz: "Eu já fui um menino e sei o
que eles querem, e eles querem
apenas uma coisa". Suponho que
ele seja um pai antiquado."
Muitas meninas atribuíram sua
atitude confiante em relação aos
meninos aos ganhos do feminismo, que promove a paridade entre meninos e meninas em áreas
como esportes e educação. Essa
mensagem tem sido traduzida
por meninas de 15 anos para o
mundo do namoro e do sexo.
"Tem sido dito a meninas, em
todas as áreas de sua vida, para
correr atrás das coisas", afirmou
Atoosa Rubenstein, editora-chefe
de CosmoGirl, cujo público é formado por meninas de 11 a 17 anos.
"As mães dizem a elas: "Batalhe
por um lugar no time esportivo,
brigue pelo emprego". Essa mensagem se tornou algo que se aplica
a toda a vida delas. E elas a aplicam à busca por meninos."
Se a perseguição aos meninos é
sexual ou um sinal de "paixonite",
"depende da menina", acrescenta
Rubenstein. Dados de uma pesquisa sobre atividade sexual entre
adolescentes apontam uma tendência conservadora -ao menos
em termos de ato sexual.
A porcentagem de alunos do
ensino médio que permanecem
virgens vem crescendo regularmente na última década, até alcançar 54% em 2001, segundo os
Centros de Controle e Prevenção
de Doença. Os motivos da tendência, dizem especialistas, incluem o medo da Aids, o aumento
da educação sexual que ensina
apenas a abstinência e o aumento
nos índices de sexo oral, que muitos adolescentes consideram ser
menos íntimo que o ato sexual.
Mesmo dentro desse contexto,
várias das antigas regras do namoro -meninas nunca devem
telefonar para meninos e tem de
ser "difíceis"- não mais se aplicam. Para Linda Carter, uma psicóloga de Manhattan (Nova
York), é como se os hábitos da série "Sex and the City" [que retrata
as aventuras amorosas de um
grupo de amigas de 30 anos" tivessem chegado às adolescentes.
"A cultura popular satura a mentalidade delas", diz Carter. "Ver
Britney Spears as deixa mais
agressivas. Começou com jovens
adultas solteiras na série "Sex and
the City" e tem-se falado tanto sobre a afirmação sexual feminina
que isso influencia adolescentes."
"A primeira menina do ensino
fundamental que sai com meninos tem status", disse Ann Kearney-Cooke, co-diretora do Projeto Ajudando Meninas a se Tornarem Mulheres Fortes, da Universidade Columbia (Nova York).
Adolescentes, segundo Kearney-Cooke, têm overdose de imagens provenientes dos meios de
comunicação, mas sofrem de abstinência de amor, além de receberem pouca atenção dos pais.
Para Kearney-Cooke, as meninas estão se tornando mais agressivas do ponto de vista sexual e
romântico por vários motivos, incluindo as consequências não-intencionais da criação igualitária
de meninas e meninos.
"Essa geração de meninas está
sendo criada por pais do "baby
boom" [explosão demográfica
pós-Segunda Guerra Mundial", e
esses pais questionaram tudo.
Questionaram a forma de criar os
filhos, questões de gênero sexual,
estereótipos românticos e papéis
sexuais em geral." As meninas
vêm se comportando cada vez
mais como meninos, afirma
Kearney-Cooke, e estudos mostram que elas estão fumando e bebendo tanto quanto os meninos.
Marty Beckerman, 19, que estuda na Universidade Americana
em Washington, diz que a bravata
sexual das meninas é uma reação
à natureza fria que algumas pessoas adotaram em relação ao sexo. "Há um tipo de machismo entre as meninas. Elas adotaram a
atitude de macho conquistador."
Beckerman é o autor do livro
"Generation Slut", que será publicado em 2003. O autor faz um trocadilho com a palavra "slut", que
em inglês significa vagabunda, e
as iniciais para "sexual liberal urban teenagers" (adolescentes urbanas liberadas sexualmente). O
livro é um apelo à volta a um comportamento mais casto.
Uma adolescente de 18 anos de
Manhattan confirmou que o sentimento de poder sexual é derivado do movimento feminista -ao
menos no que se refere à forma
como ele é visto pelas jovens.
Upton, a orientadora de Chattanooga, relatou ter feito acompanhamento de uma menina de 15
anos que adotou o papel de mulher fatal, tal como retratado pela
cultura pop. "Ela viu essas coisas
em filmes, na MTV, fez sexo com
vários jovens e engravidou."
"E ela estava tipo: "Meu Deus,
por que eu fiz isso?". Ninguém havia ensinado a ela sobre o valor do
corpo e o valor do sexo, da intimidade e do amor. Ela não tem um
pai em casa, simplesmente estava
com fome de amor e queria parecer corajosa e aventureira. Parece
tão emocionante nos vídeos e tão
maravilhoso no cinema, mas não
é." A menina entregou o bebê a
um serviço de adoção.
A igualdade tem seu preço, é
claro. Lila Zimmerman, 16, de
Lancaster, Pensilvânia, afirmou
que o arranjo acaba sendo benéfico para os meninos, já que eles
não precisam mais se colocar em
posição de risco de serem rejeitados. "Eles não precisam mais ser
os que passam vergonha", diz ela.
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