|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AMÉRICA LATINA
Aos três meses, governo Uribe festeja sensação de segurança; para analistas, guerrilha estaria esperando para agir
Guerra total dá resultados, diz Colômbia
DA REDAÇÃO
A imagem das estradas colombianas cheias de carros durante o
feriado do fim de semana passado
foi usada à exaustão pelo governo
como prova de que sua política de
guerra total contra os grupos armados começa a dar resultados.
Essa política tem como base o estado de exceção decretado logo
após a posse do presidente Álvaro
Uribe, em agosto, e prorrogado
por 90 dias anteontem.
Pela interpretação do governo,
o aumento de mais de 9% no volume de tráfego em relação ao feriado anterior, em outubro, a ocupação de mais de 90% da capacidade hoteleira nos principais destinos turísticos do país e o aumento de 23,8% no movimento de
passageiros nas rodoviárias significam que os colombianos começam a perder o medo de viajar.
De fato, no fim de semana passado, assim como no feriado anterior, não houve registro de nenhum dos graves incidentes com
os quais muitos viajantes costumavam se deparar havia anos:
bloqueios feitos por grupos armados ilegais, sequestros, carros-bomba atravessados na pista.
Para o governo, isso aconteceu
por conta do aumento do efetivo
militar de proteção das estradas, a
realização de comboios para proteger os turistas e ações preventivas contra guerrilhas de esquerda
e paramilitares de direita, que antes marcavam presença constante
nas rodovias de todo o país.
O aumento na segurança das estradas veio acompanhado, ainda
segundo o governo, de um aumento nas prisões e mortes de
guerrilheiros. Os sequestros, fonte de recursos para os grupos armados ilegais e um dos maiores
flagelos do país, também estão em
queda. Segundo a Fundação País
Livre, organização não-governamental de apoio a sequestrados e
familiares, em setembro aconteceram no país 172 sequestros, o
menor número mensal desde fevereiro de 1998.
Mas a aparente melhora é vista
com ceticismo por vários analistas, para os quais ela faria parte da
estratégia adotada pelos grupos
armados após a posse de Uribe.
Em sua coluna no jornal "El
Tiempo", na semana passada, o
ex-vice-presidente Carlos Lemos
Simmonds levantou a hipótese de
que a guerrilha possa estar "preparando uma guerra urbana cruel
e prolongada ao estilo de Pablo
Escobar". A referência citada por
Lemos é a guerra contra o Estado
declarada nos anos 80 por Escobar, chefe do cartel de Medellín,
para pressionar contra a extradição de narcotraficantes colombianos aos EUA.
Para Otty Patiño, ex-líder do
grupo guerrilheiro M-19 que hoje
dirige a organização Observatório
para a Paz, a redução na atividade
da guerrilha pode ser proposital.
"As Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, principal grupo guerrilheiro do país" estão escondidas, só observando a
movimentação do governo e se
preparando para agir", diz.
A pressa em mostrar serviço já
provocou pelo menos um revés
para a imagem do governo. No
mês passado, o jornal "El Tiempo", o principal do país, publicou
uma reportagem na qual relacionava uma série de feitos contra os
grupos armados ilegais divulgados pelas Forças Armadas e que
acabaram não se confirmando.
Para o analista político Alfredo
Rangel, ex-consultor do Ministério da Defesa, a divulgação de
ações contra a guerrilha que depois foram contestadas é resultado de uma competição dentro das
Forças Armadas para apresentar
resultados e cumprir as exigências do próprio governo.
"O apoio da população à política de segurança pública do governo continua alto, por volta dos
80%, mas a divulgação de ações
não comprovadas depois pode
debilitar esse apoio nos prazos
médio e longo", disse.
Texto Anterior: Comportamento: Garotas americanas partem para o ataque Próximo Texto: Decretos autorizam prisões sem mandado Índice
|