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Mídia dos EUA passa a exibir imagens fortes da guerra
CATHERINE HOURS
DA FRANCE PRESSE, EM NOVA YORK
As imagens mostram um soldado ferido carregado numa maca e
o cadáver de um marine num saco plástico. Desde o início da semana e da deterioração da situação no Iraque, os jornais americanos não vêm hesitando em mostrar a guerra sob um lado mais
realista.
O aumento do número de mortos e acontecimentos específicos
como o assassinato e a brutal mutilação de quatro civis americanos
na cidade de Fallujah levaram a
ser quebrado o tabu que impedia
que se mostrassem as vítimas
americanas nos meios de comunicação, segundo especialistas
nesses meios.
Na sexta-feira, muitos jornais
publicaram a foto de um grupo de
marines rezando diante do cadáver de um membro de sua unidade que morreu dos ferimentos sofridos, num posto de primeiros
socorros em Fallujah. O ""USA Today" publicou a foto de outro marine ferido segurando as mãos de
seus companheiros, enquanto
aguardava atendimento.
Desde a Guerra do Vietnã
(1965-75), as autoridades americanas tentam controlar o uso de
imagens dos conflitos pela grande
imprensa. A partir da Guerra do
Golfo, em 1991, foi proibido fotografar os ataúdes com os corpos
de militares que chegavam aos Estados Unidos.
""De fato, o movimento que está
acontecendo é em direção a uma
situação mais normal, com a publicação das fotos dos mortos.
Afinal, o que se faz em uma guerra
é matar", disse Jim Naurekas, da
organização de análise dos meios
de comunicação Fairness and Accuracy in Reporting (justiça e acurácia no jornalismo).
Novas diretrizes
As diretrizes editoriais, afirmou,
também mudaram repentinamente. ""Ao longo da guerra, os
órgãos de imprensa evitavam publicar imagens dos soldados americanos feridos ou mortos. Esse
tem sido um dos maiores tabus
do conflito", disse Naurekas.
""Existe a idéia de que publicar
fotos de soldados feridos prejudicaria o apoio popular à guerra. Especialmente no auge dos combates do ano passado, havia a idéia
de que qualquer coisa que pudesse reduzir o apoio público à guerra seria pouco patriótico." Para
Naurekas, ""existe bastante autocensura na mídia".
Robert Thompson, diretor do
Centro para o Estudo da Televisão Popular da Universidade
Syracuse, em Nova York, acredita
que os acontecimentos em campo
no Iraque e as mudanças em Washington modificaram a cobertura
da imprensa.
""Os jornalistas americanos e os
canais de televisão provavelmente
estão um pouco menos arredios
hoje quando se trata de reportar
alguns assuntos em mais detalhe e
mostrar mais fotografias do que
antes, quando havia todo um clima de unidade nacional", disse
Thompson.
O assassinato dos quatro civis
americanos em Fallujah há pouco
mais de uma semana quase acabou com o tabu, segundo
Thompson. Os cadáveres queimados de dois dos quatro civis foram mutilados e pendurados em
uma ponte, e as imagens foram
largamente difundidas nos EUA.
""A mutilação dos cadáveres em
Fallujah foi em grande medida
responsável pela mudança, porque seria difícil contar a história
sem as fotos", disse Naurekas.
A rede CNN exibiu diversas vezes imagens de um soldado com a
parte inferior de seu corpo banhada em sangue enquanto era retirado da batalha em um caminhão, e também as de outros marines feridos abandonando um
tanque.
Importantes jornais americanos publicaram nesta semana a
foto de um marine na cidade iraquiana de Ramadi carregando sobre o ombro o cadáver de um colega dentro de um saco plástico.
Também foram largamente difundidas uma foto de soldados
chorando ao serem informados
da morte de companheiros e a de
um médico segurando a mão de
um marine ferido dentro de um
veículo militar, depois de uma
emboscada.
""Enxergar a realidade pode afetar as pessoas e a percepção que
elas têm da guerra", disse Naurekas. ""É fato sabido que imagens
têm impacto emocional maior do
que palavras."
Já Thompson acredita que o impacto das imagens seja significativo apenas se elas forem divulgadas por tempo prolongado. ""Uma
imagem qualquer não vai modificar a opinião pública de maneira
significativa", disse ele. ""Mas, se
tivermos mais algumas semanas
como as recentes, e se todas essas
imagens se juntarem, então uma
mudança poderá realmente se
produzir."
O acadêmico lembrou que muitas imagens terríveis saíram da
Guerra do Vietnã, mas que ""foi só
depois de estarmos lá por algum
tempo, e de as imagens continuarem a chegar sem parar, que a
opinião pública começou a mudar realmente".
Tradução de Clara Allain
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