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País necessita agora de soldados para realizar patrulhas contra os insurgentes, mas eles estão em falta
Forças dos EUA no Iraque estão no limite
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
As Forças Armadas norte-americanas estão hoje no limite da sua
capacidade de conter a sublevação no Iraque. E estariam em apuros se surgisse uma nova grande
crise -uma invasão da Coréia do
Sul pela Coréia do Norte, por
exemplo.
O motivo disso são a paulatina
diminuição do número de tropas
desde o fim da Guerra Fria com o
mundo comunista e a crescente
crença de que a alta tecnologia
serviria para contrabalançar a lacuna de "botas no terreno".
Por mais poder de fogo que tenham tanques, canhões e aviões,
ou por mais "cirúrgica" que seja a
pontaria dos mísseis, comboios
de remédios, combustível e alimentos precisam de soldados
com prosaicos fuzis e metralhadoras para protegê-los.
O secretário da Defesa, Donald
Rumsfeld, é considerado um dos
maiores entusiastas da equação
"bombas inteligentes + forças especiais", mas a filosofia vem de
bem antes.
Se na década de 80 do século
passado as Forças Armadas americanas tinham mais de 2 milhões
de homens e mulheres, hoje têm
1,4 milhão.
O Exército foi particularmente
afetado. De 781 mil homens e mulheres, passou para o máximo
permitido por lei, de 480 mil
-embora hoje os números estejam um pouco acima disso, dada
a urgência de reter pessoal.
Forças mais leves, mais ágeis e
tecnicamente mais sofisticadas
podem até ganhar as guerras mais
rapidamente que suas antecessoras pesadonas. Mas têm muito
mais dificuldade para policiar um
país ocupado de grandes dimensões e densamente povoado, como é o caso do Iraque.
As forças especiais foram importantes no conflito do ano passado, por exemplo, para evitar
que as pontes iraquianas fossem
destruídas antes da chegada do
grosso das tropas. Mas essas forças altamente treinadas custam
caro para treinar e são por definição pouco numerosas.
Os norte-americanos precisam
agora de soldados comuns fazendo patrulhas ostensivas. E eles estão em falta.
"Muitos analistas militares e
membros do Congresso consideram que o Exército dos EUA esteja estendido demais e potencialmente incapaz de lidar com uma
presença a longo prazo no Iraque
-ainda mais se estourasse uma
guerra na península coreana",
afirmou um profético relatório do
Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, já
no ano passado.
As tropas de ocupação precisam
ser trocadas de tempos em tempos. Os EUA têm 180 mil soldados
em operações no exterior, dos
quais 130 mil no Iraque.
Ou seja, praticamente um terço
do Exército está em zonas de
combate. Mas, no planejamento
militar, o ideal é ter 5 soldados para cada 1 em operações ativas, para manter em boas condições o
treinamento, a recuperação, a
prontidão e, não menos importante, o moral da tropa. Além de,
algo que está cada vez mais em
pauta, substituir os mortos e feridos.
Manter esse total de soldados
em atividade hoje só é possível
com o uso de reservistas, que
criam um problema adicional,
pois não podem ficar muito tempo longe de suas ocupações civis.
Simplesmente não há soldados
profissionais em número suficiente.
Já no ano passado também foi
tomada uma decisão impopular:
cancelar a baixa de muitos reservistas e profissionais. O Exército
simplesmente os reteve, e pronto.
O deslocamento para uma região de combate tende a afetar algumas unidades mais do que outras. Uma força armada inclui
desde o soldado de linha de frente
-os "dentes", no jargão militar-, até aqueles na retaguarda
trabalhando com burocracia ou
logística -a "cauda" do Exército.
As operações no Iraque, nos
Bálcãs e no Afeganistão têm demandado mais "dentes" do que
"cauda" -nada menos que 24
das 33 brigadas de combate estão
fora dos EUA (uma brigada, em
alguns Exércitos chamada de regimento, é uma unidade com
3.000 a 5.000 homens).
E mesmo a "cauda" tem sido
afetada. Soldados que não são
propriamente combatentes, mas
são vitais para a ocupação do Iraque, têm sido mantidos na região
por muito mais tempo do que
gostariam. É o caso dos intérpretes, por exemplo.
Os EUA contam também com
um numeroso Corpo de Fuzileiros Navais, com cerca de 174 mil
homens e mulheres. Esses marines sofrem os mesmos problemas
de falta de pessoal e de rodízios
prolongados nas áreas operacionais. Muito de seu equipamento é
otimizado para operações anfíbias, desembarques em praias, e
não para patrulhar zonas urbanas.
A crise atual já está afetando os
planos do Pentágono. A 1ª Divisão Blindada provavelmente vai
permanecer mais tempo que o
previsto no Iraque. E a 3ª Divisão
de Infantaria, a mesma que tomou Bagdá, talvez tenha de voltar
para lá. Não é difícil imaginar o
moral dos soldados e de suas famílias sobre essas hipóteses.
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