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Para alguns, candidato é títere do atual presidente
Influência de Duhalde paira sobre Kirchner
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
Se as pesquisas de intenção de
voto estiverem certas, Néstor
Kirchner deve derrotar o ex-presidente Carlos Menem (1989-99)
no segundo turno da eleição presidencial da Argentina, no dia 18.
Apoiado pelo atual presidente
argentino, Eduardo Duhalde, o
governador da Província de Santa
Cruz não goza de muita popularidade e, até lançar sua candidatura
à Presidência, era desconhecido
do eleitorado.
Analistas mais céticos o classificam como um títere de Duhalde e
afirmam que não terá autonomia
para governar.
"Se eleito, Kirchner será o primeiro presidente peronista fraco
da história da Argentina", afirma
Guillermo Mondino, da consultoria Latin Source.
"A vantagem de Kirchner nas
pesquisas se deve mais ao espírito
antimenemista", diz o diretor do
Ceop (Centro de Estudos e Opinião Pública), Roberto Bacman.
O sociólogo Eugênio Buidepot,
no entanto, acredita que a independência de Kirchner dependerá das urnas. "Se tiver uma margem grande de votos, terá mais independência. Se vencer por uma
diferença pequena, terá de contar
com mais apoio de Duhalde."
Pesquisa realizada pela consultoria Equis na última semana
mostra Kirchner com 58,1% das
intenções de voto, e Menem, com
21,7%. No entanto 51,8% dos que
dizem que pretendem votar em
Kirchner o farão para evitar que
Menem volte a ser presidente.
Se eleito, Kirchner será o primeiro presidente nascido na Patagônia, região do extremo sul, rica
em petróleo, mas com baixa densidade populacional -leia-se
poucos votos.
Sua campanha foi baseada na
Província de Buenos Aires, reduto
eleitoral de Duhalde, seu padrinho político.
"A verdade é que o eleitor mostrou que quer continuidade e
Kirchner é a continuidade de Duhalde", afirma Alberto Etcheberry, do Instituto de Estudos
Brasileiros da Universidade San
Martín.
Segundo ele, a confirmação de
que o ministro da Economia, Roberto Lavagna, permanecerá no
cargo num eventual governo
Kirchner foi uma demonstração
disso. "Lavagna foi o grande fator
de sucesso eleitoral de Kirchner."
Alinhamento com Brasil
Kirchner representaria, dentro
do peronismo, a opção de centro-esquerda, ou o que os argentinos
chamam de "progressismo".
Seu programa de governo defende uma maior proteção à indústria nacional, incentivos para
as exportações e subsídios para
pequenas e médias empresas. A
diplomacia de Kirchner também
tende ao alinhamento ao Brasil e
ao fortalecimento do Mercosul.
Apesar de ser considerado, dentro do peronismo, a antítese de
Menem, sua provável eleição não
representa uma completa renovação política no país. Tanto Kirchner quanto Menem são peronistas, ainda que de tendências opostas dentro do Partido Justicialista.
Aldo Abram, da consultoria
Exante, afirma em relatório sobre
as eleições que o modelo econômico proposto pela dupla Kirchner/Lavagna para a Argentina pode ser considerado um modelo
semelhante ao brasileiro ou "ao
estilo peronista das décadas que
antecederam o menemismo". "É
um modelo que permitirá aumento da produtividade", afirma.
Pesquisa
Pesquisa realizada pelo Estúdio
Broda & Associados com empresários e economistas mostra que
Menem seria o favorito do setor
empresarial. É apontado como
preferido por 43% dos ouvidos,
enquanto Kirchner recebeu apenas 23% dos votos.
Duhalde também teria influência sobre um governo Kirchner,
segundo o levantamento: 34%
dos entrevistados acham que essa
influência seria muito alta e 43%,
alta. Apenas 1% acha que o atual
presidente não irá interferir.
Os empresários também afirmaram que uma vitória de Menem teria efeitos mais positivos
sobre os negócios: 51% dos entrevistados acham que a situação
melhoraria. Kirchner teve 20%.
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