São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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Peronistas privilegiam TV para escapar da hostilidade nas ruas

DE BUENOS AIRES

Temerosos de virar alvo de protestos, os pré-candidatos do Partido Justicialista (PJ, peronista) evitam participar de atos públicos e elegeram a TV como meio de divulgar propostas e fazer campanha. O descontentamento da população com os políticos continua grande. Nos primeiros cinco meses de 2002 houve 11.088 manifestações, segundo o Indec, instituto de estatísticas do governo.
Para piorar as coisas, dois nomes do partido, o ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) e o presidente Eduardo Duhalde, são identificados como co-responsáveis pelo colapso argentino.
Os peronistas romperam assim uma tradição de 50 anos -a de se aproximar da população nas campanhas- e passaram a ser encontrados com frequências nos programas de entrevista.
O mais midiático dos peronistas é Adolfo Rodríguez Saá. O ex-presidente é sempre convidado a falar porque ele dá audiência.
Rodríguez Saá atrai pela capacidade de criar polêmicas. Sua mais bem-sucedida jogada ocorreu há um mês, quando ele disse ter informações de que poderia ser vítima de um "magnicídio" (assassinato de pessoas importantes) ordenado por Menem, o que lhe rendeu semanas de exposição na mídia. Com isso, Rodríguez Saá consolidou a projeção nacional obtida na última semana de 2001, período em que presidiu a Argentina, decretou a moratória da dívida e depois renunciou.
Outro peronista bastante midiático é o governador de Córdoba, José Manuel de la Sota, que foi embaixador argentino em Brasília durante o governo Menem. De la Sota escuta com devoção sua equipe de marqueteiros, coordenada pelo brasileiro Duda Mendonça. O lançamento de sua pré-candidatura foi feito pela televisão, sem a presença de aliados como Duhalde, devido ao provável impacto eleitoral negativo.
Menem teria dificuldades de fazer campanha se não fossem a TV e a polícia. Tem permanecido na Província de La Rioja, dominada politicamente por sua família. Há três semanas, ele foi obrigado a cancelar uma viagem a Santiago del Estero (norte) porque cerca de 400 pessoas destruíram a casa de seu maior aliado político regional.
Na TV, Menem improvisa discursos e não contratou uma agência de publicidade. Talvez por isso tenha entrado em contradição e admitido ter conta na Suíça durante entrevista à CNN.
Já o governador de Santa Cruz, Néstor Kirchner, não tem nome como Menem e usa a TV para se mostrar ao maior número de eleitores. Usa mais o tempo para criticar o governo do que para detalhar propostas. Sem apoio dentro do PJ, Kirchner ainda não decidiu se participa das prévias ou se se filia a outro partido que facilite sua participação na eleição. (JS)


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