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Líder, Carrió ataca adversários e esconde suas propostas de governo
DE BUENOS AIRES
Com propostas de governo
pouco conhecidas, a deputada de
oposição Elisa Carrió mantém há
vários meses a liderança nas pesquisas eleitorais com a popularidade que conquistou por meio de
uma série de denúncias contra a
corrupção na Argentina.
Os ataques de Carrió, 45, incluem instituições tão diferentes
quanto o Congresso, o governo, o
sistema financeiro, o FMI (Fundo
Monetário Internacional) e o Poder Judiciário.
Nas últimas semanas, no entanto, a pré-candidata mudou o foco
de suas denúncias, que estava
concentrado no governo do presidente Eduardo Duhalde, para
aquele que considera ser seu provável adversário no segundo turno da eleição presidencial de março: o ex-presidente Carlos Menem (1989-1999).
Em seus ataques, Carrió mostra
um pouco do misticismo que valoriza. A deputada, que carrega
um enorme crucifixo no peito,
costuma definir Menem como a
"expressão do mal" ou a antítese
do que ela mesma representaria
na Argentina. "Se ele é o demônio,
eu sou Harry Potter", disse, há algumas semanas.
Outro investimento da deputada está na campanha para que as
eleições de março sejam gerais, e
não apenas presidenciais, já que
ela mesmo admite que não teria
condições de governar em caso de
vitória com um Congresso dominado pelo Partido Justicialista e a
União Cívica Radical.
As eleição gerais têm a simpatia
de mais de 80% da população, devido ao descontentamento generalizado com a classe política.
Com o slogan "Que se vayan todos" (que renunciem todos), a
campanha liderada pela deputada
contribuiu para sua popularidade
e ganhou o apoio de várias lideranças políticas, como o presidenciável Luis Zamora, o prefeito de
Buenos Aires, Aníbal Ibarra, e o
governador de Santa Cruz, Néstor
Kirchner. Não se descarta que um
desses nomes seja o vice-presidente que Carrió procura.
Para analistas políticos ouvidos
pela Folha, no entanto, os ataques
aos adversários e a campanha por
eleições gerais ajudam a encobrir
a falta de propostas de Carrió para
tirar a Argentina da crise.
"Carrió ainda não esclareceu e
nem tem interesse em esclarecer
suas propostas agora. Em primeiro lugar nas pesquisas, ela tem
deixado os pré-candidatos peronistas se atacarem entre eles até a
conclusão das prévias para a escolha do candidato do partido [em
novembro"", disse o analista Ricardo Rouvier.
Também contribui para gerar
incertezas sobre um possível governo Carrió o fato de ela pertencer ao ARI (Argentina por uma
República de Iguais), um partido
fundado há apenas um ano e que
nunca possuiu cargos importantes no Poder Executivo.
Preocupada pelo crescimento
das críticas, Carrió divulgou há
cerca de três semanas as bases de
seu programa de governo.
O texto não foi suficiente para
diminuir as críticas. Analistas
apontam a proposta de relação
com o FMI como um bom exemplo da superficialidade das idéias:
"É muito difícil se confrontar com
o FMI e, ao mesmo tempo, inconcebível pensar em um futuro para
o país que se baseie nas receitas do
FMI", diz o documento.
A idéia principal prevê um
"choque de demanda" que seria
criado por políticas de distribuição de renda. Com mais dinheiro
no bolso, diz o texto, a própria população ajudaria a reativar a economia. No entanto não fica claro
quais seriam as políticas implementadas para melhorar a distribuição da renda.
De concreto, Carrió deixa claro
que não adotaria a dolarização da
economia -principal proposta
de Menem-, porque a medida
seria prejudicial ao Mercosul. Ela
também considera que o bloco
deve ser a prioridade comercial
do governo e a plataforma para as
negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
(JS)
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