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Americana rastreia origem
DA REDAÇÃO
A jornalista e escritora nova-iorquina Pearl Duncan usou linguística, história e genética para
descobrir o lugar exato na África
de onde seus antepassados partiram como escravos. Sua busca deve ser transformada em um livro,
a ser publicado em 2003.
Duncan, 52, autora do livro de
contos "Water Dancing", falou à
Folha, por e-mail, de sua casa em
Manhattan. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
(MB)
Folha - Por que a sra. decidiu buscar a origem de seus ancestrais?
Pearl Duncan - Quando eu era
criança, ouvia histórias sobre nossos ancestrais, que tinham, como
meus pais, apelidos muito engraçados. Além disso, minha mãe
costumava dizer: "Por favor, não
chaka-chaka meu sofá". Chaka-chaka significa bagunçar. As expressões não soavam anglo-saxônicas, e comecei a anotá-las.
Um dia, falei com Peter Pipim,
um antropólogo e linguista africano do Smithsonian Institution,
em Washington. Ele riu ao ouvir
as palavras e disse que eram da
língua twi, do povo akan, de Gana. Ele disse que os apelidos vinham de um grupo akan, os akuanem, que vivem nas colinas ao redor da capital ganense, Acra.
Folha - Por que você decidiu usar
o DNA em sua busca?
Duncan - Pipim havia me contado que o apelido de meu pai, Pari,
vinha do sobrenome africano
Opare e que os Opares são akuapems que vivem nos vilarejos rurais de Akropong, Mampong,
Larteh, Mamfe e Aburi.
Fiquei maravilhada e comecei a
telefonar e mandar e-mails até encontrar akuapems e descendentes
de africanos com o sobrenome
Opare. Em 1999, quando li que geneticistas haviam rastreado os ancestrais judeus do povo lemba, do
sul da África, pensei: "Ótimo, talvez o DNA possa ser usado para
confirmar que os Opares eram
meus ancestrais". Michael Hammer, do Projeto Genoma, concordou em incluir meu grupo na pesquisa. Eu fui a igrejas e clubes ganenses em Nova York e pedia que
os descendentes me deixassem
analisar seu DNA.
Folha - O que a sra. descobriu?
Duncan - Que meu pai não tem
nenhum ancestral europeu, só
africanos, e que seu DNA correspondia ao de membros da família
Opare de Gana e de ao menos 40
akuapems.
Folha - De que forma as suas descobertas a ajudaram?
Duncan - Sinto-me muito mais
conectada à família humana, pois
entendo onde minha família e
meus ancestrais se encaixam.
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