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análise
Ação russa visa frear Saakashvili
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A natureza das operações militares russas na
Geórgia sugere que Moscou tenta garantir um cordão de isolamento militar
para as duas regiões separatistas que apóia no país.
O problema dessa análise
é a confiabilidade das informações, que dependem
de duas máquinas de propaganda: a de Mikhail Saakashvili e a de Vladimir
Putin. No que resta de mídia independente russa,
não há muitas pistas. No
reverso da moeda, se depender do que se lê nos
"The New York Times" da
vida, os russos vão incorporar a Geórgia, e a Otan
tem que agir já.
Dito isso, duas ações reportadas indicam que os
russos buscam estabelecer
uma forma de inviabilizar
as pretensões de Tbilisi
sobre a Ossétia do Sul e a
Abkházia. E, claro, destroçar sua viabilidade como
candidata a membro da
aliança militar ocidental.
A primeira foi a onda de
ataques, desde sábado, desestruturando as Forças
Armadas georgianas. A segunda, o ultimato para que
a Geórgia abandone posições em torno da Abkházia
e saia da posição que ocupa no encrave.
Enquanto isso, há relatos de que a Rússia tenha
reforçado sua presença
militar, oficialmente sancionada a 2.500 soldados
de força de paz, na Abkházia. Esse movimento já havia sido detectado, mas
agora começa a fazer sentido a teoria de que Moscou já tinha todo um plano
para imobilizar a Geórgia
mesmo antes do ataque de
Tbilisi à Ossétia do Sul.
Haveria cerca de 9.000
soldados russos no local,
mais blindados. A região já
é autônoma, adota o rublo
russo como sua moeda, e o
reforço é um sinal expressivo do que Moscou quer
para a região.
Segundo essa leitura, fica claro que o Kremlin
conta com os limites da retórica do Ocidente -e sua
hipocrisia, já que os EUA
são os primeiros a não respeitar "fronteiras nacionais soberanas e internacionalmente reconhecidas", como Iraque e Kosovo atestam.
Assim, é previsível que
as ações militares russas
se mantenham por mais
alguns dias, para que esteja garantida a esterilização
militar da Geórgia. Aí, usa-se alguma desculpa diplomática para calar os canhões e restabelecer o status quo favorável à Rússia.
Ao optar pela operação
de guerra aberta, o Kremlin mostrou todas as suas
cartas. EUA e parte da
União Européia chiam,
mas pouco têm a fazer, já
que não levaram às vias de
fato o namoro com a Geórgia. Resta saber se Saakashvili sobrevive, politicamente ao menos, e como
será a natureza dos futuros embates do Ocidente
no antigo espaço soviético.
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