São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2008

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Bush afirma que ação russa contra seu aliado é "inaceitável"

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Uma hora depois de voltar de Pequim, George W. Bush convocou a imprensa ao gramado da Casa Branca para qualificar de "inaceitável" a ação russa na aliada Geórgia. "A Rússia invadiu um Estado soberano vizinho e ameaça um governo democraticamente eleito por seu povo", disse o presidente norte-americano, ecoando o que dissera na véspera seu embaixador na ONU. "Uma ação assim é inaceitável no século 21."
O governo da Rússia, repetiu Bush, "deve respeitar a soberania e a integridade territorial da Geórgia" e aceitar um acordo de paz. As ações, diz ele, "prejudicaram substancialmente a posição da Rússia e colocam em risco suas relações com os EUA e com a Europa", afirmou. "É hora de a Rússia cumprir sua palavra e acabar com a crise."
Apesar da retórica dura, Bush esfriou alguns graus a declaração dada no dia anterior por seu vice, Dick Cheney, que havia dito que "a agressão russa não pode ficar sem resposta". Falcão-mestre da administração republicana, o vice-presidente foi um dos arquitetos da invasão do Iraque pela força multinacional comandada pelos EUA, em março de 2003.
Ainda assim, a fala do presidente parecia pautada por inteligência obtida pelo Pentágono, sugerindo que o objetivo russo era mais do que apenas voltar à situação prévia a 7 de agosto. Para Washington, Moscou quer mudar o regime e anexar o país, independente desde o colapso soviético, em 1991.
"Parece que um esforço para depor um governo legitimamente eleito pode estar em ação", disse Bush. "Estou profundamente preocupado com relatos de que tropas russas foram além da zona de conflito, atacaram a cidade de Gori e ameaçam a capital, Tbilisi."
Os russos extrapolaram ontem a área original de conflito -a Ossétia do Sul-, mas não há relatos independentes de que tenham tropas em Gori, onde um prédio civil foi atingido em bombardeio no sábado. O presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, disse ontem que sua capital não está sob risco.
Para Bush, no entanto, os relatos, se comprovados, "representam uma escalada brutal do conflito e seriam incoerentes com as garantias que recebemos da Rússia de que seus objetivos eram limitados a restaurar a situação que existia na Ossétia do Sul antes do conflito".
Mas os EUA não prometeram apoio militar ao aliado na atual crise. Ainda assim, o Pentágono anunciou que repatriou os 2.000 soldados georgianos no Iraque -terceiro maior contingente naquela guerra.
O candidato republicano à Casa Branca ecoou seu companheiro de partido ao dizer ontem que "as ações russas não têm lugar numa Europa do século 21". Já o democrata Barack Obama adotou o tom conciliatório que domina sua plataforma externa. "A relação entre a Rússia e o Ocidente é antiga e complicada", afirmou. "Tem havido muitos momentos decisivos, para o bem e para o mal. Este é mais um deles."


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