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Após pleito, negociação entre governo e oposição segue em horizonte distante
DA ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ
Políticos bolivianos e analistas viam com pessimismo ontem os resultados projetados
para o referendo revogatório,
que anteontem deu vitória simultânea ao governo e aos quatro principais oposicionistas.
Apesar dos chamados nacionais e internacionais ao diálogo, a negociação entre Evo Morales e governadores autonomistas parecia distante.
O motivo é que, de um lado,
há o aberto desafio do governo
de Santa Cruz, que interpretou
a vitória do governador Rubén
Costas, com ao menos 66%, como impulso a seu projeto de autonomia administrativa à revelia de La Paz. Costas anteontem
criticou duramente o governo e
chamou Morales de "macaco".
De outro, o presidente boliviano fez um chamado ao diálogo. Mas, de saída, pôs limites à
negociação para compatibilizar
a nova Constituição, aprovada
pelos governistas, e os estatutos autonômicos de Santa Cruz,
Pando, Beni e Tarija.
"A autonomia tem de ser para o povo, não para alguns setores (...). Não se trata de que Evo
Morales ceda. O interesse deve
ser buscar a igualdade social",
disse o presidente boliviano
ontem, questionado sobre o
quanto está disposto a negociar
no texto da nova Carta, que ainda precisa ir a referendo.
Morales citou o trecho da
Constituição que prevê que
serviços de água, esgoto e telecomunicações devem estar a
cargo do Estado. "Depende do
povo. O povo vai querer um serviço de água privado?"
Os departamentos liderados
por Santa Cruz rejeitam o viés
estatista da Carta, que consideram ilegal. Esse é apenas um
dos pontos que opõe as duas
partes. A meia-lua, celeiro e reserva energética do país, defende um modelo produtivo liberal, quer liberdade quase total
para lidar com recursos como a
terra e rejeita o direito à autonomia dos 36 povos indígenas
bolivianos.
"O discurso do governador
Rubén Costas foi brutal, mas
foi mais sincero do que o do
presidente. Afirmou claramente que não está disposto a ceder. É preciso assumir que neste clima de ódio e polarização
não há condições para o diálogo", afirma o analista Fernando
Molina, diretor do semanário
econômico "Pulso". O mesmo
tom foi repetido por vários analistas nas TVs e jornais bolivianos, que temiam que os resultados promovessem reações radicais. Uma federação indígena
ligada a Morales prometeu fazer "um cerco econômico" às
regiões oposicionistas.
(FM)
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