Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÃO NOS EUA
Estrela democrata ajudaria a reduzir abstenção, diz analista
Clinton fora é mais um complicador para Kerry
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Submetendo-se na última segunda-feira a uma cirurgia de revascularização, o ex-presidente
Bill Clinton foi obrigado a se afastar da campanha presidencial democrata, na qual sua principal tarefa era a de convencer o eleitorado de seu partido a votar maciçamente em 2 de novembro. Sem
Clinton, o candidato presidencial
John Kerry tende a ser prejudicado pela abstenção de uma fração
de seus simpatizantes.
É o que disse à Folha Matthew
Crenson, cientista político e pesquisador da Universidade Johns
Hopkins e co-autor de "Downsizing Democracy" (apequenando
a democracia). Eis os principais
trechos de sua entrevista.
Folha - Recuperando-se de uma
cirurgia cardíaca, o ex-presidente
Bill Clinton fará falta à campanha
do senador John Kerry?
Matthew Crenson - Creio que
Kerry venha a sofrer prejuízos. Isso porque Clinton planejava não
apenas fazer campanha pelo candidato de seu partido, mas convencer o maior número de eleitores a votar. Como o voto não é
obrigatório, sua intervenção teria
necessariamente algum peso no
comparecimento de simpatizantes do Partido Democrata.
Folha - Há alguma previsão de
que simpatizantes dos democratas
venham a se abster mais que os
simpatizantes de Bush?
Crenson - Acredito que a abstenção venha a ser desta vez menor
que a da eleição passada. [Em
2000, votaram 67% dos eleitores
inscritos, ou 51% das pessoas em
condições de votar].
Folha - Há quatro anos, Clinton
entrou tarde na campanha, o que
aparentemente prejudicou o candidato democrata Al Gore.
Crenson - Ele foi mantido longe
da campanha porque Gore temia
os efeitos da situação embaraçosa
em que Clinton se encontrava [escândalo sexual de Monica Lewinsky]. Mas foi um erro grave.
Clinton continua a ser um dirigente extremamente popular entre os democratas, como se confirmou com sua aparição, em julho, na convenção do partido.
Folha - Como explicar o salto da
candidatura Bush depois da convenção do Partido Republicano?
Crenson - Isso se deve ao sucesso
da estratégia de campanha dos republicanos, que consiste em
acuar o candidato democrata e
mostrar, de modo previsivelmente negativo, quem ele é. Kerry dera de início muita importância a
seu status de veterano do Vietnã.
Os republicanos procuraram desmoralizá-lo nesse ponto. É possível que essa questão se torne um
bumerangue, em razão das revelações feitas sobre o passado militar de Bush. Mas não creio que o
efeito venha a ser tão devastador,
uma vez que os republicanos agora contestam a autenticidade dos
documentos.
Folha - A seu ver, Bush continuará com uma vantagem significativa
até a votação de 2 de novembro?
Crenson - A diferença tende a diminuir. Mas creio também que os
republicanos tenham ferido seriamente a candidatura de Kerry,
que não tem sido bastante agressivo ao atacar seu adversário. Os
republicanos estão mais no ataque; os democratas, na defensiva.
Folha - Bush é tão criticado pela
mídia predominantemente liberal.
Como explicar que ele resista?
Crenson - Isso se deve ao medo
do terrorismo de grande parte
dos americanos. Essa massa de cidadãos se sente segura sob a liderança de Bush. Há atentados se
multiplicando pelo mundo, mas
nada voltou a acontecer nos EUA
depois do 11 de Setembro.
Texto Anterior: Iraque sob tutela: Corte dos EUA condena 2º por tortura em Abu Ghraib Próximo Texto: Inversão de papéis dá vantagem a Bush Índice
|