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ÁSIA
População da ex-colônia britânica vai às urnas hoje para escolher membros do Legislativo em sistema que favorece Pequim
Hong Kong tem eleição, mas não democracia
CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A HONG KONG
Democracia. Este é o principal
tema da eleição legislativa que
Hong Kong realiza hoje, a terceira
desde que a ex-colônia britânica
retornou ao domínio da China,
em 1997.
Eleições diretas para chefe do
Executivo, em 2007, e todas as cadeiras do Legislativo, em 2008, é a
principal bandeira levantada pela
oposição, que também esteve à
frente dos protestos que levaram
milhares de pessoas às ruas de
Hong Kong nos dias 1º de julho de
2003 e 2004.
No entanto, a possibilidade de
adoção do voto direto em 2007 e
2008 para todos os cargos foi descartada em maio pelo Comitê
Permanente do Congresso Nacional do Povo em Pequim, que defendeu a democratização "gradual" da ilha.
A decisão foi vista por integrantes da comunidade internacional
como uma violação do acordo
que permitiu o retorno de Hong
Kong à China, assinado em 1984.
Pelos seus termos, a ilha terá um
alto grau de autonomia por 50
anos e seus moradores manterão
os mesmos direitos e garantias individuais que tinham durante o
domínio britânico.
Sistema não-democrático
Como a realização de eleições
não estava entre esses direitos, Pequim afirma que não violou o
acordo, mas apenas interpretou a
Lei Básica que deve reger a vida da
ilha no período de 50 anos.
Analistas ouvidos pela Folha
são unânimes ao afirmar que o
sistema atual de eleição para o Legislativo está longe de ser democrático. "Só metade dos 60 legisladores são eleitos diretamente, sob
um sistema eleitoral desenhado
para manter no poder os aliados
do governo", diz Michael Davis,
professor de direito da Universidade Chinesa em Hong Kong.
"O sistema eleitoral privilegia os
empresários e corporações profissionais, que tendem a ser favoráveis aos governos de Pequim e
Hong Kong", ressalta Ma Ngok,
do Departamento de Ciência Política da Universidade de Ciência e
Tecnologia de Hong Kong.
Nesse cenário, os próprios democratas reconhecem que precisariam de um "pequeno milagre"
para ganhar a maioria das 30 cadeiras. Joseph Cheng, um dos líderes da frente democrata, afirma
que a oposição espera eleger entre
25 e 27 legisladores, um pequeno
aumento em relação aos 22 atuais.
Qualquer resultado superior será
considerado uma grande vitória.
"A comunidade de negócios de
Hong Kong acredita que Pequim
vá defender e respeitar seus interesses."
Escândalo sexual
A performance dos democratas
também está ameaçada pelo escândalo que afetou um de seus
principais candidatos, Alex Ho
Wai-to, preso há um mês no sul
da China em um quarto de hotel
com uma prostituta. Na quinta-feira, autoridades policiais de
Dongguan divulgaram fotos de
Ho no momento da prisão, para
refutar acusações de que a detenção havia sido armada para prejudicar os democratas.
A divulgação das fotos foi o
mais chamativo episódio de uma
campanha marcada por acusações de tentativa de intimidação
de eleitores e candidatos de oposição. Anteontem, o grupo de defesa de direitos humanos Human
Rights Watch, afirmou que o governo de Pequim estava criando
um "clima de terror" nas vésperas
da eleição.
A acusação foi refutada anteontem pela administração da ex-colônia britânica, segundo a qual a
China respeita o modelo de "um
país, dois sistemas", pelo qual
Hong Kong manteve suas características capitalistas e ocidentais
depois da reunificação, em 1997.
Mesmo com as restrições do sistema de votação, esta é a eleição
mais democrática da ilha desde
seu retorno à China. Antes, apenas uma minoria das cadeiras do
Conselho Legislativo era eleita
por voto direto.
Na eleição de 1998, o número
subiu para 20 das 60 cadeiras. Em
2000, passou para 24 e, agora, 30.
Ivan Choy, professor do Departamento de Ciência Política da
Universidade Chinesa em Hong
Kong, acredita que o mau desempenho do governo de Tung Chee-hwa -que chefia o Executivo
desde 1997- seja um fator relevante por trás do aumento das
manifestações pró-democracia.
"Diante da pobreza do governo,
mais e mais pessoas estão vendo a
importância de um regime democrático", observa.
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