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PÓS-GUERRA
EUA vão alterar educação no Iraque
Americanos fazem licitação para "revitalizar" sistema de ensino e cuidar de "governança local"
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Grandes potências podem influenciar milhões de vidas e mudar a história. E os valores de
grandes potências importam".
Esse trecho de um discurso feito
em outubro de 2002 por Condoleezza Rice, assessora de Segurança Nacional de George W. Bush,
sintetiza bem os objetivos do governo norte-americano para o
Iraque no pós-guerra.
Planos para a transformação do
país à americana já foram traçados e não se limitam à recuperação de infra-estrutura e administração de portos e aeroportos por
companhias dos Estados Unidos.
Incluem outras licitações para a
escolha de empresas e organizações não-governamentais -também exclusivamente norte-americanas- que, por um ano, cuidarão de serviços essenciais para
o futuro da sociedade iraquiana,
como reforma do sistema educacional e fortalecimento de novas
instituições locais.
Grande influência
Uma análise dos termos dos
contratos que estão em processo
de licitação dão uma medida da
grande influência que os EUA
pretendem ter no Iraque após a
guerra, "comparável com os esforços norte-americanos na Alemanha e no Japão", segundo relatório do prestigiado CSIS (sigla
em inglês para Centro de Estudos
Estratégicos e Internacionais).
Na última sexta-feira, por
exemplo, a Usaid (agência norte-americana para o desenvolvimento internacional) concedeu à organização Research Triangle Institute um contrato de US$ 7,9 milhões para cuidar de "governança
local". Esse serviço, que deverá
contribuir para o formato do novo regime político iraquiano, prevê assistência para o fortalecimento de administrações locais e
instituições civis.
Ontem, a Usaid anunciou o nome da organização Creative Associates International Inc. (CAII)
que irá "revitalizar" o sistema
educacional do país. O grupo-
com contrato inicial de US$ 2 milhões- terá a missão de "promover rápido aumento de matrículas
e a permanência dos alunos nas
escolas, contribuindo para a democracia, a igualdade, o crescimento econômico e a melhoria do
bem-estar das famílias".
O contrato também prevê que a
CAII mude o currículo escolar e
treine professores. Um dos objetivos do governo norte-americano
é banir, por exemplo, o culto a
Saddam Hussein nas escolas.
Por trás desses planos, se encaixa bem a ideologia dos principais
membros do governo dos Estados
Unidos ligados à segurança. O
grupo defende uma postura realista que privilegia o unilateralismo, quando necessário, para a defesa do interesse nacional.
O grupo pretende ainda disseminar valores ocidentais de democracia e livre mercado principalmente no Oriente Médio.
"A reconstrução do Iraque não
será apenas sobre a recuperação
de infra-estrutura. Será um experimento pelo qual os EUA tentarão transmitir valores à população iraquiana por meio do sistema educacional, da mídia etc", diz
John Feffer, analista da instituição
Foreign Policy in Focus, que está
editando um livro sobre o unilateralismo norte-americano.
Divergências
Embora já traçados, os planos
para o pós-guerra sofrem forte
oposição fora do país e até dentro
do governo norte-americano.
As principais críticas se referem
à decisão dos EUA de conceder os
principais contratos para a reconstrução somente a empresas
do país e tentar liderar sozinhos o
processo. Outros países- principalmente os que se opuseram à
guerra, como França, Alemanha e
Rússia- e organizações internacionais, como a própria ONU, teriam papel secundário.
Nesse ponto, o Pentágono tem
divergências até com o Departamento de Estado norte-americano, que também é a favor de uma
maior participação da comunidade internacional na reconstrução.
Por insistência de Tony Blair,
primeiro-ministro do Reino Unido, principal aliado dos EUA nessa guerra, Bush chegou a dizer na
semana passada que a ONU terá
papel importante depois da guerra. Outro sinal do esforço diplomático britânico foi dado ontem
quando o Secretário da Defesa,
Geoff Hoon, afirmou que membros do Baath, partido leal a Saddam, poderão participar da reconstrução do Iraque.
Resta saber se o governo Bush
vai ceder às pressões externas ou
se insistirá nos seus planos de des-Saddanização do Iraque.
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