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EUA
Para Griffiths, neoconservadores só terão força enquanto Bush estiver no poder
Poder dos "neocons" vai acabar, diz analista
DA REDAÇÃO
O neoconservadorismo americano, encarnado por Paul Wolfowitz, vice-secretário da Defesa
dos EUA, e por Richard Perle, ex-conselheiro do Pentágono, terá
vida curta como vetor da política
externa da única superpotência
global, os EUA, de acordo com
Martin Griffiths, autor de "50
Grandes Estrategistas das Relações Internacionais", recentemente lançado no Brasil pela Editora Contexto.
Para ele, a derrota de George W.
Bush na eleição presidencial de
novembro representará o fim da
tendência neoconservadora americana. E, mesmo que Bush se reeleja, o neoconservadorismo não
conseguirá manter sua influência
sobre sua política externa porque
"sua força ideológica entrou em
colapso nas areias do Iraque".
"O neoconservadorismo morrerá porque, embora tenha se deixado influenciar pela ideologia,
Bush não é um neoconservador.
Ademais, as outras potências
mundiais, como a China e alguns
países europeus, não aprovam a
ideologia neoconservadora", explicou Griffiths à Folha.
Segundo ele, duas razões foram
cruciais para que os neoconservadores conseguissem persuadir
"realistas tradicionais", como
Dick Cheney, vice-presidente dos
EUA, e Donald Rumsfeld, secretário da Defesa, a privilegiar seu
modo de analisar a cena internacional no momento de conceber a
política externa americana.
"Primeiro, o 11 de Setembro. Os
ataques aos EUA proporcionaram uma boa oportunidade para
que qualquer grupo ideológico de
direita formulasse uma nova política externa para os EUA. Segundo, somente os neoconservadores
tinham uma visão de como os
EUA deveriam comportar-se na
guerra ao terrorismo para combinar seu imenso poder militar com
os ideais da democracia liberal e
do capitalismo", avaliou Griffiths.
Não é a primeira vez na história
que um pequeno grupo -os neoconservadores americanos-
conseguiu impor suas idéias à comunidade internacional. Para
Griffiths, contudo, o grau de influência da ideologia neoconservadora tem sido exagerado.
"Em períodos que se seguiram a
guerras, vimos o surgimento de
fenômenos parecidos. Em 1918, [o
presidente dos EUA] Woodrow
Wilson [1913-21] conseguiu difundir seus princípios globalizantes. Em 1945, as idéias de [Winston] Churchill [premiê britânico
de 1940 a 1945 e de 1951 a 1955] e
de [Franklin] Roosevelt [presidente dos EUA de 1933 a 1945] sobre a estrutura da ordem mundial
do pós-guerra também predominaram", apontou Griffiths.
"A diferença é que, desta vez, o
"pequeno grupo" é oriundo de um
só país, não de vários. No entanto
ainda penso que o grau de imposição das idéias neoconservadoras aos outros atores da cena política global tem sido bastante exagerado", acrescentou.
Capitalismo e democracia
De acordo com o professor da
Universidade Flinders (Austrália), "o problema do neoconservadorismo é que ele não consegue
perceber as tensões existentes entre o capitalismo e a democracia e
superestima a capacidade dos
EUA de lidar com essas tensões".
"Se o poder e a riqueza mundiais não forem mais bem divididos, será difícil vencer a guerra ao
terror. O terrorismo é um meio,
não um fim. Assim, tão importante quanto destruir os terroristas é "drenar o lodaçal" de simpatia
e de apoio ao terror. Não creio
que os EUA sejam capazes de fazê-lo atualmente", analisou Griffiths.
(MÁRCIO SENNE DE MORAES)
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