São Paulo, domingo, 13 de junho de 2004

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EUA

Para Griffiths, neoconservadores só terão força enquanto Bush estiver no poder

Poder dos "neocons" vai acabar, diz analista

DA REDAÇÃO

O neoconservadorismo americano, encarnado por Paul Wolfowitz, vice-secretário da Defesa dos EUA, e por Richard Perle, ex-conselheiro do Pentágono, terá vida curta como vetor da política externa da única superpotência global, os EUA, de acordo com Martin Griffiths, autor de "50 Grandes Estrategistas das Relações Internacionais", recentemente lançado no Brasil pela Editora Contexto.
Para ele, a derrota de George W. Bush na eleição presidencial de novembro representará o fim da tendência neoconservadora americana. E, mesmo que Bush se reeleja, o neoconservadorismo não conseguirá manter sua influência sobre sua política externa porque "sua força ideológica entrou em colapso nas areias do Iraque".
"O neoconservadorismo morrerá porque, embora tenha se deixado influenciar pela ideologia, Bush não é um neoconservador. Ademais, as outras potências mundiais, como a China e alguns países europeus, não aprovam a ideologia neoconservadora", explicou Griffiths à Folha.
Segundo ele, duas razões foram cruciais para que os neoconservadores conseguissem persuadir "realistas tradicionais", como Dick Cheney, vice-presidente dos EUA, e Donald Rumsfeld, secretário da Defesa, a privilegiar seu modo de analisar a cena internacional no momento de conceber a política externa americana.
"Primeiro, o 11 de Setembro. Os ataques aos EUA proporcionaram uma boa oportunidade para que qualquer grupo ideológico de direita formulasse uma nova política externa para os EUA. Segundo, somente os neoconservadores tinham uma visão de como os EUA deveriam comportar-se na guerra ao terrorismo para combinar seu imenso poder militar com os ideais da democracia liberal e do capitalismo", avaliou Griffiths.
Não é a primeira vez na história que um pequeno grupo -os neoconservadores americanos- conseguiu impor suas idéias à comunidade internacional. Para Griffiths, contudo, o grau de influência da ideologia neoconservadora tem sido exagerado.
"Em períodos que se seguiram a guerras, vimos o surgimento de fenômenos parecidos. Em 1918, [o presidente dos EUA] Woodrow Wilson [1913-21] conseguiu difundir seus princípios globalizantes. Em 1945, as idéias de [Winston] Churchill [premiê britânico de 1940 a 1945 e de 1951 a 1955] e de [Franklin] Roosevelt [presidente dos EUA de 1933 a 1945] sobre a estrutura da ordem mundial do pós-guerra também predominaram", apontou Griffiths.
"A diferença é que, desta vez, o "pequeno grupo" é oriundo de um só país, não de vários. No entanto ainda penso que o grau de imposição das idéias neoconservadoras aos outros atores da cena política global tem sido bastante exagerado", acrescentou.

Capitalismo e democracia
De acordo com o professor da Universidade Flinders (Austrália), "o problema do neoconservadorismo é que ele não consegue perceber as tensões existentes entre o capitalismo e a democracia e superestima a capacidade dos EUA de lidar com essas tensões".
"Se o poder e a riqueza mundiais não forem mais bem divididos, será difícil vencer a guerra ao terror. O terrorismo é um meio, não um fim. Assim, tão importante quanto destruir os terroristas é "drenar o lodaçal" de simpatia e de apoio ao terror. Não creio que os EUA sejam capazes de fazê-lo atualmente", analisou Griffiths. (MÁRCIO SENNE DE MORAES)



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