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ÁFRICA
Casa Branca estuda possibilidade de pressionar governo do país africano a interromper ação de milícias em zona conflagrada
Washington debate se abusos no Sudão são genocídio
MARC LACEY
DO ""NEW YORK TIMES", EM NAIRÓBI (QUÊNIA)
A administração George W.
Bush está analisando a possibilidade de endurecer sua política em
relação ao governo do Sudão em
razão dos fatos ocorridos em Darfur, a região oeste do país onde
mais de 1 milhão de pessoas já foram expulsas de suas casas por
milícias árabes que, segundo muitos na região, têm vínculos diretos
com o Exército sudanês.
Funcionários do governo Bush
dizem estar analisando se o que
está acontecendo em Darfur representa genocídio. Até agora os
EUA usaram apenas o termo
""limpeza étnica". As autoridades
disseram que também estudam a
possibilidade de impor sanções a
autoridades sudanesas ligadas ao
êxodo populacional.
Em entrevista telefônica concedida anteontem, o secretário de
Estado americano, Colin Powell,
disse que os vínculos entre as milícias, conhecidas como Janjaweed, e o governo sudanês são
fortes e que muitas pessoas ainda
correm risco em Darfur e na área
que faz fronteira com o Chade.
""Sem ter um relatório de inteligência completo à minha frente, o
que posso afirmar com confiança
é que acreditamos claramente que
o governo do Sudão deu, sim,
apoio a essas milícias", disse.
O secretário evitou o termo ""genocídio" ao descrever os acontecimentos em Darfur, mas disse
que advogados do governo estão
iniciando uma revisão dos fatos
para determinar se existem condições que justifiquem a afirmação de genocídio.
Se for esse o caso, aumentarão
as pressões sobre os EUA, signatários da Convenção da ONU sobre o Genocídio, para que intervenham mais ativamente na região.
A convenção descreve o genocídio como ""atos cometidos com a
intenção de destruir, inteiramente ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso".
Demora em Ruanda
Dez anos atrás, funcionários da
administração de Bill Clinton
(1993-2001) hesitaram em usar o
termo ""genocídio" para descrever
os fatos em Ruanda, e, mais tarde,
o presidente pediu desculpas pela
demora.
Falando reservadamente, Powell já expressou seu desejo de
impedir um massacre semelhante
durante sua permanência à frente
do Departamento de Estado.
""Não estou preparado para dizer qual é o termo legal correto
para descrever o que está acontecendo", disse Powell. ""Tudo o que
sei é que há pelo menos 1 milhão
de pessoas em situação de necessidade desesperadora e que muitas delas vão morrer se não conseguirmos mobilizar a comunidade
internacional e não conseguirmos
que os sudaneses cooperem com
a comunidade internacional. E,
depois de o fato ter sido consumado, não fará grande diferença como o descrevemos."
Powell disse que a administração estuda a possibilidade de impor sanções a autoridades sudanesas específicas. Recentemente,
a Câmara dos Deputados aprovou uma resolução pedindo à administração que sejam congelados os bens pessoais de indivíduos envolvidos nos deslocamentos forçados em Darfur e que esses indivíduos sejam proibidos de
viajar aos Estados Unidos.
Nesta semana, os líderes do G8
(as sete nações mais ricas do
mundo mais a Rússia), reunidos
em Sea Island, divulgaram um comunicado convocando as autoridades sudanesas a desarmarem as
milícias apoiadas pelo governo
que ""são responsáveis por severas
violações dos direitos humanos
em Darfur".
Na sexta-feira, o Conselho de
Segurança das Nações Unidas
aprovou por unanimidade uma
resolução pedindo a interrupção
dos combates em Darfur e autorizando a preparação de uma missão de manutenção da paz a ser
enviada ao sul do Sudão.
Powell disse que continua a
confiar em que as negociações de
paz no Quênia, que já alcançaram
uma série de acordos importantes, consigam pôr fim a um conflito entre o governo sudanês e um
grupo rebelde do sul do país.
Os Estados Unidos vêm pressionando pelo fim dessa guerra e oferecendo a possibilidade de um dividendo de paz se for fechado um
acordo final. Mas Powell disse que
a mensagem que quer enviar às
autoridades sudanesas é: ""Não
pensem que, quando vocês contarem com esse acordo abrangente,
todos os benefícios que esperavam auferir dele vão se concretizar, se o problema em Darfur continuar presente".
Tradução de Clara Allain
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