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COMPORTAMENTO
Estudo mostra que adolescentes que vêem TV mais de 3 horas por dia apresentam mais dificuldades para dormir
Pesquisa diz que TV demais duplica insônia
BERTA MARCHIORI
DA REDAÇÃO
Os pais ganharam mais um argumento para impedir que seus
filhos passem horas diante da TV.
Adolescentes que passam três horas ou mais por dia diante de um
televisor apresentam mais riscos
de desenvolver problemas relacionados ao sono.
A conclusão é de uma pesquisa
desenvolvida pelo americano Jeffrey Grant Johnson, professor associado do Instituto de Psiquiatria da Universidade Columbia,
em Nova York. Muitos estudos já
associaram a TV à dificuldade para dormir, mas esse é um dos primeiros a tentar relacionar a quantidade de tempo que o jovem vê
televisão com problemas de sono.
O estudo, publicado na atual
edição dos "Archives of Pediatrics
& Adolescent Medicine", foi feito
com adolescentes de 14 anos em
759 famílias nos Estados Unidos.
Os pesquisadores acompanharam os jovens durante oito anos,
até eles completarem 22 anos, e
concluíram que o excesso de TV
mais que dobra a possibilidade de
os adolescentes desenvolverem
dificuldades para dormir, principalmente após os 16 anos.
A Academia Americana de Pediatria recomenda que crianças e
adolescentes não vejam TV mais
de duas horas por dia. "Adolescentes devem ter outras atividades, não passar seu tempo livre
assistindo à televisão", Johnson
disse à Folha, por telefone, de seu
consultório em Nova York.
E o tempo gasto em frente à TV
não precisa ser necessariamente
durante o período da noite. A pesquisa, segundo Johnson, apenas
quantifica o número de horas que
é prejudicial ao jovem. Mas ele
ressalta que manter o hábito de
ver TV à noite contribui para piorar o quadro. Esse fator não foi investigado separadamente no estudo.
As principais queixas dos adolescentes são acordar durante a
noite e não conseguir voltar a dormir -mais comum no início da
adolescência- e dificuldade para
pegar no sono -freqüente em
adultos jovens.
"Na maioria dos casos há uma
combinação de fatores. Por exemplo, adolescentes mais jovens
muitas vezes acordam durante a
noite por questões relacionadas
ao próprio crescimento", disse.
As razões pelas quais a TV se
tornou uma das principais vilãs
não estão totalmente determinadas, mas o pesquisador destaca a
luz e o brilho da tela, o alto nível
de atenção que a televisão desperta no jovem e a estimulação cerebral. Pelos mesmos motivos, videogames e computadores também são prejudiciais ao sono.
"A TV é desenhada para ser excitante e interessante, para suscitar pensamentos e idéias. Ela pode ser bastante provocativa de
certa maneira", disse Johnson.
De acordo com a neuropediatra
e coordenadora do setor de crianças e adolescentes do Instituto do
Sono da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo), Márcia
Pradella Hallinan, a televisão, assim como o computador e o videogame, estimula a retina e dificulta a secreção da melatonina,
hormônio que prepara o organismo para o sono.
A melatonina precisa do escuro
para ser liberada. "É como se fossem milhares de microlâmpadas
estimulando a retina", afirmou a
médica.
Por isso, quem liga o aparelho
justamente porque não consegue
dormir está na verdade contribuindo para o problema. "Assistir
à TV é pior. É melhor ler ou fazer
outra coisa menos estimulante",
afirmou o pesquisador, que reconhece não saber explicar por que
algumas pessoas só conseguem
pegar no sono em frente à TV. "A
televisão deve afetar as pessoas de
maneira diferente."
O pesquisador americano ressalta que nem todos os programas
prejudicam o sono de modo igual,
depende também de seu conteúdo. Programas que tenham elementos mais perturbadores, traumáticos ou tristes acabam atrapalhando mais.
Comportamento
Distúrbios de sono afetam o
comportamento do adolescente e
trazem conseqüências para a sua
vida. Quem dorme mal costuma
apresentar alterações de humor,
dificuldades de concentração e
cansaço, entre outros sintomas, o
que pode ocasionar prejuízos de
aprendizagem, problemas escolares e de relacionamento.
"Quem não consegue dormir
ou não tem um sono repousante
apresenta maior dificuldade de
concentração, de prestar atenção.
Além de problemas de aprendizagem, isso muitas vezes pode levar
a pequenos acidentes domésticos,
a batidas de carro", afirmou Luiz
Celso Pereira Vilanova, chefe do
setor de neuropediatria da Universidade Federal de São Paulo.
Mas não só. Em 2002, o americano Jeffrey Johnson divulgou
outro estudo que relacionava ver
TV em excesso com a violência.
Segundo a pesquisa, adolescentes
que assistem à TV mais de três
horas por dia também têm mais
probabilidade de desenvolverem
comportamentos agressivos e até
cometerem crimes, como assaltos, brigas e porte ilegal de armas.
E esse comportamento permanece quando se torna adulto.
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