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Analistas vêem pouca chance de reforma no Conselho de Segurança
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DE NOVA YORK
Especialistas ouvidos pela Folha
acham que são baixas as chances
de o Conselho de Segurança da
ONU ser reformado. "Vai ser
muito difícil, pois nenhum membro do Conselho de Segurança
quer de fato diluir seu poder",
afirma Doug Bandow, do Instituto Cato.
"Não acho que vá acontecer nos
próximos anos", diz Charles Hill,
ex-consultor do secretário-geral
da ONU e do Departamento de
Estado americano, hoje analista
do Instituto Hoover.
Ainda que aconteça, opinam os
analistas, a reforma deverá mudar
o conceito de vaga permanente.
Dificilmente, os novos membros
teriam o poder de veto, com o
qual um único governo pode barrar a aprovação de uma resolução
importante ainda que ela tenha
todos os outros votos.
O CS reflete a realidade política
do final da Segunda Guerra Mundial. Por causa disso, a Alemanha,
derrotada militarmente, não tem
cadeira garantida mesmo sendo a
maior economia da Europa.
Os países vencedores da guerra
assumiram vagas fixas e com direito a veto. Em 1965, houve sua
última reforma importante,
quando o número de membros
subiu de 11 para 15. Com o final da
Guerra Fria, na virada dos anos 80
para os anos 90, começou-se a
discutir a reforma do CS -e aí esquentaram as disputas.
"A proposta para que a Alemanha se tornasse membro foi barrada pela Itália. Quando houve a
proposta para a Índia, a China se
opôs. Então o momento para a reforma estava morto no final dos
anos 90, e não há sinal de que ele
vá voltar", afirma Hill.
Assim, Hill define a candidatura
brasileira como "perda de tempo". "O Brasil quer fazer com que
todos saibam sua posição. Certamente, os EUA não vão se opor a
isso. Mas depois que vocês defenderem seu argumento, não acho
que haverá nenhum lucro particular em tentar levar isso adiante", afirma.
Já Jochen Prantl, da Universidade Oxford, acha que uma alternativa à cadeira no CS é participar
dos chamados "grupos de amigos", uma forma de influenciar o
processo decisório na ONU.
"Esses grupos proliferaram
após a Guerra Fria. São criados,
de maneira informal, em torno de
um assunto específico, como um
país em crise. O Brasil, por exemplo, envolveu-se no grupo de amigos de Angola."
Bandow, do Cato, enxerga um
mérito na estratégia brasileira de
lutar pela vaga no CS. Seria uma
semente para o futuro. "O Brasil
quer estar pronto", diz.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim,
ressalta o fato de o CS não ter nenhum país em desenvolvimento
entre seus membros permanentes
no momento. E diz que, para refletir o interesse da Assembléia
Geral da ONU, os países em desenvolvimento precisam estar
mais bem representados.
Amorim concorda com a tese
de que a reforma é um assunto
complicado. Mas "não reformar é
mais complicado ainda", opina.
Para os diplomatas brasileiros
consultados pela reportagem, o
episódio do ataque ao Iraque, no
qual os EUA decidiram ir à guerra
sem autorização formal do CS,
deixou clara a necessidade de mudança.
A França e a Rússia, membros
permanentes do CS, já manifestaram apoio ao Brasil. Na América
Latina, o país saiu na frente da Argentina e do México, seus tradicionais rivais pela vaga. Tem a
aprovação da Venezuela, do Peru,
da Bolívia e do Uruguai. Amorim
conta ainda com a Austrália, a
África do Sul, Angola e Moçambique.
Os EUA explicitaram sua posição em um documento do Departamento de Estado. Declararam
que apóiam a expansão do CS e
que querem incluir o Japão e a
Alemanha. Além disso, o governo
americano se diz "preparado para
aceitar outras três cadeiras para
nações em desenvolvimento da
África, da Ásia e da América Latina". Mas os EUA acham que esses
três membros deveriam ser escolhidos regionalmente -resposta
dada por George W. Bush a Luiz
Inácio Lula da Silva.
(RD e AS)
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