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Oposição dividida pode beneficiar presidente em eventual eleição
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
As divisões internas na oposição
venezuelana poderão impedir
uma vitória eleitoral contra o presidente Hugo Chávez caso as
pressões para a convocação de
eleições antecipadas dêem algum
resultado. Apesar de ter reunido
centenas de milhares de pessoas
na quinta-feira para protestar
contra Chávez, a oposição não
conta hoje com um nome forte e
carismático o suficiente para fazer
frente ao presidente.
Enquanto os simpatizantes do
governo (menos de 30%, segundo
as últimas pesquisas) se concentram no entorno da figura de
Chávez, a insatisfação com o presidente é diluída entre pelo menos
uma dezena de líderes opositores
com aspirações políticas.
"A contundência da marcha de
quinta-feira não está vinculada à
oposição, mas à figura do próprio
Chávez", afirma o analista político Luis Vicente León, diretor do
instituto de pesquisas Datanálisis.
"Nenhum organizador teria condições de chamar sozinho tanta
gente para uma manifestação. Foi
uma união contra Chávez", diz.
A marcha foi convocada pela
Coordenação Democrática (CD),
entidade que congrega diversos
partidos políticos e organizações
da oposição. Muitos dos 28 dirigentes da CD são potenciais candidatos a presidente.
Pesquisa
Segundo uma pesquisa recente
do Datanálisis, Chávez receberia
34,8% dos votos válidos se a eleição presidencial fosse agora. O
opositor mais bem colocado,
Enrique Mendoza, governador do
Estado de Miranda, teria 21,3%
dos votos. Como as eleições presidenciais no país têm apenas um
turno, Chávez venceria.
Além de Enrique Mendoza,
membro do tradicional partido
Copei (Democrata Cristão), despontam como eventuais adversários de Chávez o deputado Julio
Borges, fundador do novo partido
Primeiro Justiça, o ex-governador
de Carabobo Henrique Salas Römer, que perdeu a eleição presidencial de 1998 para Chávez, e o
prefeito da região metropolitana
de Caracas, Alfredo Peña, um ex-chavista que passou à oposição.
Com menos chances, aparecem
ainda o ex-prefeito de Caracas
Antonio Ledezma, o atual governador de Carabobo, Henrique Salas Feo, filho de Salas Römer, e o
ex-presidente da PDVSA (a gigante estatal do Petróleo) Guaicaipuro Lameda.
Outros nomes que mantêm forte respaldo popular e que poderiam eventualmente se aventurar
em uma candidatura são o presidente da Fedecámaras (principal
associação empresarial do país),
Carlos Fernández, e o da CTV
(Confederação dos Trabalhadores da Venezuela), Carlos Ortega.
Também há uma série de oficiais militares descontentes que se
rebelaram contra Chávez nos últimos meses e que vêm participando ativamente das articulações
políticas da oposição.
"O que não falta é candidato a
presidente. Por ambição de poder, eles não conseguem articular
uma oposição civil organizada
homogênea", disse à Folha
Freddy Bernal, prefeito do Município Libertador, distrito central
de Caracas, e um dos mais ativos
aliados de Chávez.
Os chavistas apontam as divisões entre os opositores como o
principal fator que impede o diálogo com o governo. "Eles não sabem o que querem. Um aponta
numa direção e outro aponta para
outra", afirma Bernal.
Candidato comum
Para a analista política Maria
Teresa Romero, a oposição terá
de chegar a um acordo e apresentar um candidato comum se quiser vencer Chávez em uma eventual eleição. "Seria burrice política
não se unirem, porque as pesquisas mostram que, se estiverem separados, Chávez vence", afirma.
Das diversas correntes que se
digladiam pela liderança da oposição, os analistas consideram que
é possível agrupá-las em dois
aglomerados principais: os antichavistas clássicos, adversários de
primeira hora do presidente, e os
neo-antichavistas, antigos aliados
que passaram à oposição.
Entre os principais candidatos
potenciais, Mendoza e Peña seriam representantes do grupo
neo-antichavista, e Salas Römer e
Borges, do grupo antichavista
clássico.
Apesar das manifestações da
oposição pedindo sua renúncia e
a convocação de eleições, Chávez
tem mandato até 2007 e diz que
não cederá à pressão. Segundo
ele, a Constituição só permite um
eventual referendo sobre sua permanência na Presidência a partir
de agosto de 2003, quando o mandato chega à metade.
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