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AMÉRICA LATINA
Líder nas pesquisas "subsidia" mídia na corrida presidencial
Adolfo Saá tenta campanha popular na Argentina
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
Adolfo Rodríguez Saá, que foi
presidente da Argentina por uma
semana no fim do ano passado e
lidera as pesquisas de intenção de
voto para a eleição presidencial de
março, aposta não apenas em um
discurso populista, mas também
em uma campanha popular com
importante participação da imprensa para se eleger.
O pré-candidato, ligado ao Partido Justicialista (peronista), iniciou no mês passado uma caravana -ironicamente chamada pela
imprensa local de "Marcha dos
Sonhos"- que promete percorrer todas as Províncias do país até
a data da eleição. Na última quarta-feira, a Folha acompanhou a
largada da caravana em Buenos
Aires, em La Cava (o poço, em
português), uma das favelas mais
miseráveis da Província.
Sob chuva fina e rodeado de seguranças, Rodríguez Saá caminhou por ruas enlameadas e cumprimentou com beijos e abraços
parte dos moradores. Depois, donas-de-casa, desempregados e ex-presidiários, entre outros, contaram suas mazelas e reclamaram
mais emprego e educação ou menos violência e fome.
Os moradores também mostraram seu descontentamento com
uma classe política que não foi capaz de evitar que a pobreza atingisse o índice recorde de 53% da
população. Sempre sorridente,
Rodríguez Saá escutou frases como: "Olho para o senhor e o acho
simpático agora, pisando na lama. Mas será da mesma forma depois de ganhar a eleição?".
Após ouvir umas 15 pessoas, o
pré-candidato improvisou um
discurso e prometeu, entre outras
coisas, criar empregos para que "a
Argentina volte a ser como em
outros tempos".
Antes disso, Rodríguez Saá pediu aos jornalistas que se afastassem para deixar lugar para a população. "A imprensa não pode
ser um obstáculo para o povo argentino", disse ele, sob aplausos.
A participação dos meios de comunicação no ato, no entanto, foi
subsidiada pelo próprio candidato. Um ônibus e almoço foram
oferecidos para que dezenas de
jornalistas e fotógrafos locais e estrangeiros pudessem acompanhar a marcha nas dez vilas visitadas durante o dia. Se necessário,
assessores buscavam repórteres
em suas próprias casas para obter
maior divulgação.
A preocupação de Rodríguez
Saá com a imprensa é reduzida à
marcha. O pré-candidato tem recusado pedidos de entrevistas do
maior jornal do país, o "Clarín", e
da revista de maior circulação, a
"Noticias". Mas ele mantém boas
relações com apresentadores de
TV que comandam os programas
em que sempre aparece.
Tanto o "Clarín" quanto a "Noticias", assim como outros meios
argentinos, resgataram, em reportagens recentes, denúncias judiciais de enriquecimento ilícito
ou escândalos sexuais envolvendo Rodríguez Saá.
No entanto o porta-voz de campanha, Gustavo Valenzuela, negou que sejam escolhidos para
entrevistas apenas jornalistas de
confiança. "A imprensa deve entender que nós definimos a estratégia de campanha, e não eles."
Ele também afirmou que a marcha foi a maneira encontrada por
Rodríguez Saá para fazer campanha sem necessitar de doações de
empresários -"para não se comprometer com ninguém"- e sem
poder contar com a estrutura do
Partido Justicialista -cuja maior
parte dos dirigentes e filiados deve apoiar o ex-presidente Carlos
Menem (1989-1999) na eleição.
O porta-voz garantiu que Rodríguez Saá não vai comprar espaços publicitários na TV como
fazem seus concorrentes.
Além disso, ele afirmou que os
custos da marcha são financiados
por militantes e que, apesar de o
patrimônio de Rodríguez Saá ter
crescido de dois carros e uma casa
para 3,3 milhões de pesos (R$
3,394 milhões) durante os 18 anos
em que governou a Província de
San Luis, ele não vai investir dinheiro próprio na campanha. "Na
situação atual, isso seria zombar
do povo", disse Valenzuela.
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