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Governo Aznar trouxe prosperidade ao país
DO COLUNISTA DA FOLHA
O que surpreende nas eleições
espanholas de hoje não é o fato de
que todas as pesquisas indiquem
uma vitória do PP (Partido Popular, centro-direita), no governo há
oito anos, todos com José María
Aznar, que, no entanto, preferiu
deixar o cargo e indicou Mariano
Rajoy como candidato.
A surpresa é que as pesquisas,
realizadas antes dos atentados,
ainda deixem dúvidas sobre a repetição ou não da maioria absoluta pelo PP, depois que o partido
presidiu a criação de 4,2 milhões
de empregos, com o que o desemprego se reduziu de 22%, quando
Aznar assumiu em 1996, para os
atuais 11,2%.
É bastante paradoxal, mas o
conservador PP conseguiu, na
prática, o que muitos líderes
mundiais conservadores ou liberais viam, apenas na teoria, como
a grande sedução de Luiz Inácio
Lula da Silva: manter o equilíbrio
orçamentário e, não obstante, dar
atenção ao social.
Lula, por enquanto, está na promessa. Aznar, não. Pegou o país
com um déficit na altura de 5% do
PIB (Produto Interno Bruto, medida da renda nacional) e o transformou em superávit (0,6% no
ano passado). Na área social, não
há melhor política do que criação
de empregos.
Pedro Arias Veira, professor da
Universidade de Santiago de
Compostela, chega a dizer que
"desde a segunda metade dos
anos 90 (os anos José María Aznar, portanto), se atravessa a melhor etapa da história econômica
espanhola". Não existe período
precedente, conclui, que resista a
uma comparação séria.
Ninguém discute os números,
mas há, de um lado, o temor de
insustentabilidade e, de outro,
uma diferente atribuição de responsabilidades por essa "melhor
etapa econômica".
Grande parte do crescimento
econômico espanhol se assenta
em um "boom" da construção civil. São 500 mil residências anuais,
mais que Alemanha e França juntas, elas que são as duas maiores
economias européias.
Mas, para comprá-las, os espanhóis enterraram-se em dívidas.
Ao terminar 2003, elas ascendiam
a 467,8 bilhões. Um aumento
nos juros, hoje baixíssimos, ou
uma desaceleração econômica
que faça aumentar o desemprego
poderiam provocar o estouro da
bolha. Mesmo sem crise, o crédito
hipotecário "iniciará sua desaceleração durante 2004", já antecipa
a Associação Hipotecária Espanhola.
A outra chave da prosperidade
espanhola é a integração à Europa, que despeja no país, a fundo
perdido, o equivalente a 1% de seu
PIB por ano.
Mais: é a integração à Europa
que permite juros baixos, dá segurança aos investidores e abre mercados para a produção espanhola.
Na verdade, o milagre espanhol
é simples de enunciar: nem a esquerda, quando governou, fez a
folia econômica de que a direita
sempre suspeita, nem a direita fez
a demolição do Estado de bem-estar social que é marca registrada
da Europa.
O próprio Aznar reconhecia indiretamente, em janeiro, os méritos de todos. "Estamos há 25 anos
em democracia (a contar da
Constituição de 1978). Provavelmente, os melhores 25 anos de
nossa história". Ora, o PSOE governou 12 desses 25 anos (entre
1982/96).
Do lado contrário, o professor
Josep Fradera, crítico de Aznar,
também concede: "o conservadorismo do PP não é do estilo thatcheriano (da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher),
com um ataque frontal ao sistema
social herdado.
É muito agressivo politicamente
com o adversário, mas muito cauteloso naquilo que lhe possa alienar apoios sociais".
É claro que, como crítico, Fradera acha que, se o PP continuar
governando, "os efeitos a longo
prazo se farão sentir".
Se o eleitor votar hoje não com
olhos no longo prazo nem nos
atentados de quinta, mas pelo que
sente no seu próprio bolso, o razoável é supor que o bom andamento da economia permita a Rajoy dar seqüência ao governo de
Aznar, com ou sem maioria absoluta.
(CR)
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