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Jogo faz revanche nas Malvinas
DA REDAÇÃO
A produção de videogames na
América Latina ainda é incipiente
se comparada à produção dos
EUA e da Ásia. Vem da Argentina, entretanto, um dos melhores
exemplos de uso dos jogos eletrônicos como instrumento político.
Em dezembro de 1999, um grupo de jovens trabalhava na criação de um game de estratégia militar. Ao imaginar como retrataria
uma guerra, o estudante de engenharia da informática Javier Otaegui, 22, pensou no conflito armado mais recente da história de seu
país, a Guerra das Malvinas
(1982), contra o Reino Unido.
Nasceu assim Malvinas 2032,
um game em CD-ROM para PC
que leva aos micros uma causa
nacionalista argentina. A introdução do jogo não deixa dúvidas sobre o que pensam seus idealizadores sobre quem deve reter a posse
das ilhas Malvinas, atualmente
território britânico: "Ano 2032:
meio século se passou desde a
Guerra das Malvinas. Agora é
chegada a hora da Argentina recuperar o que é seu. Ilhas Malvinas, para sempre argentinas!".
Otaegui disse à Folha, por e-mail, que sua equipe não tinha intenção de promover idéias belicistas. "Nossa intenção era utilizar o
videogame como meio para lembrar aos jovens que, como eu,
eram muito pequenos em 1982 ou
nem haviam nascido, sobre a
existência do conflito. Queríamos
combater o processo de "desmalvinização" pelo qual passa a Argentina", argumentou.
"Ao nosso entender, as Malvinas são parte indivisível do território argentino", diz texto no site
oficial do jogo, onde é possível
baixar uma versão "demo" para
testá-lo antes de comprar
(www.malvinas2032.com.ar).
Otaegui admite que, além dos objetivos "patriotas", também teve
motivações econômicas ao inserir
o game no mercado. "Mas não
conseguimos ganhar nem um
centavo com ele."
Ao tocar numa ferida ainda
aberta da história da Argentina,
Otaegui e a sua equipe geraram algum desconforto tanto em seu
país quanto no exterior. Segundo
ele, certa vez teve de entrar em
contato com a Chancelaria argentina, e o funcionário com quem
falou "não gostou muito da idéia
[do jogo sobre as Malvinas]".
Malvinas 2032 possui versões
em espanhol e inglês. É vendido,
via internet, para todo o mundo.
"Chegamos a receber alguns insultos de ingleses irritados [com o
viés político apresentado no jogo]", contou Otaegui. Atualmente, seus criadores trabalham num
novo projeto: um jogo de estratégia militar que terá as guerras de
independência das Américas como tema.
(MS)
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