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Guru da direita elogia presidente, mas vê erros
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O republicano George W. Bush
tem sido um ótimo presidente
num tempo de guerras. Todavia
talvez já pudesse ter dado mais
atenção a certas questões domésticas, como os excessivos gastos
do governo com programas não
relacionados à segurança ou à defesa dos interesses americanos.
A avaliação é de Gary Bauer,
presidente de um "think tank"
conservador denominado American Values (valores americanos) e
uma das figuras mais influentes
da cena política dos EUA.
Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.
Folha - Bush parece estar em dificuldade por conta de vários temas,
como o déficit fiscal. Como o sr.
avalia essa situação?
Gary Bauer - Não é anormal que,
no início do ano eleitoral, o candidato da oposição saia na frente,
colocando o presidente na defensiva. Os pré-candidatos democratas vêm fazendo uma espécie de
competição para mostrar quem
ataca mais o presidente, e isso tem
dominado os telejornais, o que influencia o eleitorado.
Contudo creio que Bush esteja
em condições relativamente boas
no que se refere à campanha. A
economia realmente parece ter
retomado o caminho do crescimento. E, se houver uma sólida
criação de empregos nos próximos seis meses, ele deverá estar
em ótima posição na campanha.
Folha - Quais são as principais
fraquezas de Bush, que poderão
ser exploradas pelos democratas?
Bauer - A controvérsia em torno
das armas de destruição em massa de Saddam Hussein é uma fraqueza. A maioria da população
acredita no presidente atualmente, mas, se nos próximos meses,
ela chegar à conclusão de que ele a
enganou intencionalmente para
invadir o Iraque, poderá haver o
que chamamos aqui nos EUA de
defasagem de credibilidade.
Ironicamente, outra fraqueza é
a segurança interna. Bush fez um
grande trabalho no que concerne
à proteção do território americano, não fomos mais atacados desde o 11 de Setembro. Todavia, à
medida que passam a sentir-se
mais seguras em seu país, as pessoas tendem a voltar sua atenção
para questões domésticas, como
despesas com o setor social ou
com educação, nas quais os democratas levam certa vantagem
sobre os republicanos.
Folha - Bush tem dado sinais de
que busca agradar a seu eleitorado
conservador ultimamente. Ele será
obrigado a abrandar o tom?
Bauer - Na verdade, penso que
ele terá de fortalecer sua base conservadora, já que parte dela está
descontente. O presidente desagradou bastante a certos economistas conservadores quando decidiu gastar mais em programas
federais não ligados à segurança.
Alguns de seus simpatizantes de
grupos religiosos conservadores
crêem que ele pudesse ter sido
mais ativo no debate sobre a definição do casamento.
Assim, veremos o presidente
bem mais rigoroso no que diz respeito ao controle dos gastos governamentais e bem mais eloqüente a respeito da questão do
casamento. Afinal, ele sabe que
não pode correr o risco de afastar-se de sua base tradicional. Sua reeleição depende desses votos.
Folha - O enorme déficit orçamentário americano desagrada até
a alguns setores do Partido Republicano. Qual é o problema?
Bauer - Parte do déficit orçamentário é compreensível, já que
o impacto econômico do 11 de Setembro provocou uma queda na
arrecadação do governo, além de
seus gastos terem subido por conta do conflito no Afeganistão, da
guerra ao terrorismo global e da
ofensiva contra Saddam Hussein.
É mais problemático, todavia, o
fato de as despesas em setores não
ligados ao Departamento da Defesa ou ao da Segurança Interna
também terem tido um aumento
considerável. Isso gera apreensão
em muitos economistas conservadores. Por isso acredito que,
neste ano, o presidente venha a fazer o possível para controlar o
crescimento do Orçamento.
Folha - No entanto o corte de impostos defendido por Bush tende a
agravar a situação, não é?
Bauer - A redução de impostos
foi a melhor medida econômica
tomada pela atual administração.
A economia americana teve uma
fase ruim, e a última coisa que um
dirigente deveria fazer nessas
condições é tirar ainda mais dinheiro dos contribuintes. É difícil
ganhar dinheiro, e ninguém gosta
de mandá-lo para Washington.
Nos próximos meses, deveremos assistir a um espetacular fenômeno de criação de empregos
nos EUA, e isso só ocorrerá por
causa do corte de impostos proposto pelo atual governo.
Folha - Qual é sua análise do primeiro mandato de Bush?
Bauer - Ele tem sido um ótimo
presidente num tempo de guerras. Se tivesse de tecer críticas, diria que ele talvez não tenha dado a
devida atenção a certas questões
domésticas, mas creio que ele seja
um grande presidente.
Talvez ele pudesse ter sido mais
cuidadoso com questões ligadas
aos gastos do governo não relacionados à segurança dos EUA.
Bush poderia ter refletido duas
vezes antes de sancionar aumentos significativos dos gastos públicos com remédios, por exemplo.
Afinal, não se pode saber o verdadeiro custo do Medicare [espécie
de seguro-saúde], e isso poderá
gerar problemas orçamentários
em cinco ou dez anos.
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