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Morales susta jejum e abre campanha
Acordo no Congresso sobre Lei Eleitoral abre caminho à reeleição do presidente boliviano em dezembro
Nova legislação estabelece voto de bolivianos no exterior e reserva cadeiras para representantes dos vários grupos indígenas
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Após dias de intensa disputa
entre governistas e oposição, o
Congresso boliviano aprovou
na madrugada de ontem a nova
Lei Eleitoral do país. O fim do
impasse abre o caminho para a
realização de eleições gerais em
6 de dezembro, nas quais o presidente Evo Morales aparece
como favorito para um novo
mandato de cinco anos.
A aprovação foi comemorada
em clima de campanha eleitoral por Morales, que encerrou
uma greve de fome de cinco
dias. Nesse período, mascou folha de coca, bebeu água e comeu doces. Ele encerrou o jejum às 4h20, cerca de 15 minutos depois do fim da sessão parlamentar.
"Avancemos e comecemos a
campanha com vistas a dezembro. Digam o que disserem,
protestem ou não protestem, é
uma luta democrática, cultural
e programática. Estamos dispostos a melhorar nossa gestão,
mas estamos principalmente
dispostos a assegurar o triunfo", discursou Morales a centenas de simpatizantes concentrados na praça Murillo, onde
estão tanto o Palácio Quemado
como o Congresso.
O presidente boliviano acusou a maioria opositora no Senado de ter "chantageado" o
governismo para mudar a legislação eleitoral.
A legislação regulamenta as
alterações eleitorais contidas
na nova Constituição, aprovada
em referendo em janeiro. O
principal impasse se referia à
realização de um novo censo
eleitoral. Num recuo de Morales, os governistas concordaram no sábado em fazer um registro biométrico dos eleitores,
incluindo a impressão digital,
desde que não atrase a eleição.
Autonomias
A nova lei também prevê a
realização em dezembro de referendos nos departamentos
do altiplano para decidir sobre
a criação de um regime autônomo, uma das principais bandeiras da oposição.
Também haverá um referendo específico no departamento
de Tarija (sul), para decidir sobre o grau de autonomia da região do Chaco, principal produtora de gás, com relação ao restante do departamento.
Outras mudanças importantes são a criação do voto no exterior, onde vivem mais de 2
milhões de bolivianos, e a reserva de sete vagas na Câmara
dos Deputados para parlamentares indígenas, de um total de
130 cadeiras. Inicialmente, os
governistas queriam 14 assentos permanentes, mas também
recuaram depois de negociar
com a oposição.
A legislação também formaliza a realização de eleições para
governadores e prefeitos, a serem realizadas em 4 de abril de
2010. Já a nova Constituição
introduz a reeleição presidencial consecutiva e o segundo
turno com voto direto -antes,
a escolha entre os dois candidatos a presidente mais votados
era feita pelo Congresso.
No poder desde janeiro de
2006, o presidente Evo Morales é o favorito para as eleições
de dezembro. Ele, porém, se
comprometeu a não tentar
uma nova reeleição em 2014,
caso vença o pleito deste ano.
Por outro lado, a oposição está sem um candidato de consenso -os nomes mais lembrados são os ex-presidentes Carlos Mesa e Jorge "Tuto" Quiroga, e o ex-vice-presidente Victor Hugo Cárdenas. Nenhum
ameaça até agora o favoritismo
de Morales
A realização das eleições de
dezembro também favoreceria
Morales por causa da economia. Vários analistas preveem
um impacto maior da crise só a
partir do ano que vem.
A Bolívia tem sido afetada
por causa da queda brusca dos
preços do gás natural, exportado ao Brasil e à Argentina, e dos
minerais, mas conta com reservas internacionais para amortizar a queda de arrecadação no
curto prazo e financiar os populares programas sociais de
Morales.
Com agências internacionais
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