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GUERRA SEM LIMITES
Pesquisa nega imagem de desespero
Terrorista típico é de classe média e tem boa instrução, diz estudo
JEAN-PIERRE STROOBANTS
DO ""LE MONDE", EM BRUXELAS
O terrorista típico membro da
nebulosa rede Al Qaeda é instruído, saído da classe média ou alta,
raramente tem formação religiosa, mais freqüentemente é casado
e pai de família e realiza algum
trabalho interessante.
Marc Sageman, professor da
Universidade da Pensilvânia,
conselheiro do governo americano e antigo agente da CIA (agência de inteligência americana) no
Afeganistão e um dos mais respeitados analistas do terrorismo
atual, realizou um estudo sobre o
que descreveu como ""o novo terrorista global e niilista".
O resultado surpreendeu porque bate de frente com uma idéia
firmemente implantada: a de que
os terroristas suicidas, colocadores de bombas e membros de células islâmicas seriam, basicamente, jovens perdidos na vida,
pobres e isolados, saídos dos subúrbios pobres do mundo árabe-muçulmano.
Sageman -que testemunhou
como especialista em Al Qaeda à
comissão do Congresso americano responsável por investigar as
circunstâncias do 11 de Setembro- analisou o perfil de 382 terroristas supostos ou declarados
que têm vínculos diretos ou indiretos com a rede terrorista liderada pelo saudita Osama bin Laden.
"Gente como a gente"
Nos Estados Unidos, na Alemanha, na França, em Marrocos, no
Egito e na Indonésia, ele teve acesso a documentos dos serviços de
informação e da polícia, às transcrições de escutas telefônicas e de
interrogatórios, a dados pessoais
sobre os suspeitos etc.
São fontes que o especialista
considera incompletas, mas que,
mesmo assim, em sua opinião, resultaram em alguns dados constantes.
Depois de classificar as pessoas
em questão em categorias amplas
(dirigentes, árabes, magrebinos
-originários do norte da África-, asiáticos), Sageman destacou, para começar, que mais de
90% deles não tiveram educação
religiosa.
Em seguida, ele observa que
17,6% dos supostos terroristas
saíram de classes sociais altas e
54,9% das classes médias. Quase
60% deles possuem no mínimo
um diploma de ensino secundário, 42% têm trabalhos interessantes e 33% fazem trabalho semiqualificado.
Com média de idade de 25,7
anos, o terrorista típico é, ""em
mais de sete em cada dez casos,
casado e pai de família, na maioria
dos casos sem antecedentes criminais".
Apresentados no início de julho, os resultados da pesquisa
provocaram espanto no público
americano, convencido, segundo
o autor, de que os integrantes da
Al Qaeda são ""fanáticos religiosos, malucos vindos de outro planeta habitado por demônios".
Na verdade, ironiza Sageman,
""eles se assemelham às pessoas às
quais apresentei meu trabalho".
Solidão
O que chama a atenção, diz ele, é
que muitos daqueles cujo perfil
ele estudou são totalmente ocidentalizados, membros de um
mundo globalizado pelo qual já
viajaram: 70% afirmam ter entrado para a "guerra santa" num país
estrangeiro, depois de terem emigrado para estudar ou por razões
profissionais.
Boa parte deles, diz Sageman,
passou a ter saudades de seus países e a sentir-se solitária e marginalizada, quando não rejeitada
mesmo, em seus países de adoção. Muitos, então, se sensibilizaram com as mensagens difundidas nas mesquitas radicais, onde
se fala da ""decadência" da sociedade ocidental e também da necessidade de defender o islã nos
países árabes que desenvolveram
vínculos com o Ocidente.
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