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"EIXO DO MAL"
País comunista tem mais capacidade de produzir arma nuclear, mas Iraque continua sendo alvo prioritário
EUA destinam "tratamento suave" à Coréia do Norte
JAIME SPITZCOVSKY
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A Coréia do Norte, pródiga em
agitar o fantasma das armas nucleares e responsável pela recente
intensificação de tensões na península coreana, recebe de Washington um tratamento diferente
da política aplicada pelo governo
Bush ao Iraque.
Para Bagdá, os Estados Unidos
enviam sinais cada vez mais claros de uma ofensiva militar, mas,
para o regime norte-coreano, a
mensagem é que a cartada bélica
está descartada.
A Casa Branca sabe que um ataque contra a Coréia do Norte corresponde a uma operação mais
arriscada e mais complexa em
comparação com a tentativa para
se livrar do ditador iraquiano,
Saddam Hussein.
Em janeiro passado, o presidente George W. Bush reuniu Coréia
do Norte, Irã e Iraque no chamado "eixo do mal", grupo de países
acusados de cultivar vínculos com
grupos terroristas ou de manter
programas de armas de destruição em massa.
Desde então, Bagdá despontou
como alvo primordial do radar
norte-americano.
A Coréia do Norte, regime comunista ortodoxo e um dos países diplomaticamente mais isolados do planeta, embarcou em outubro numa estratégia de aumentar os desafios aos Estados Unidos.
Admitiu, por exemplo, ter mantido um programa clandestino de
desenvolvimento de armas nucleares, que violaria acordos internacionais.
A lógica norte-coreana consiste
em agitar o fantasma da força bélica para aumentar o poder de
barganha do país em eventuais
negociações com os EUA.
O país avalia ser inevitável iniciar um processo de diálogo com
Washington, para não se transformar, após o Iraque, no próximo alvo da "guerra antiterror".
Mas a estratégia detonou uma
escalada de tensões. Em retaliação
ao anúncio norte-coreano sobre
seu programa nuclear clandestino, os Estados Unidos deixaram
de oferecer combustível ao país,
contrapartida exigida pela Coréia
do Norte em 1994 para abandonar
suas ambições atômicas.
O regime norte-coreano reagiu
na semana passada e anunciou a
reativação de uma usina nuclear,
argumentando precisar de energia elétrica e se dizendo pressionado pelo fim do envio de combustível pelos EUA.
A declaração voltou a aumentar
a tensão na península coreana e
na região.
Na sexta-feira, Mohamed El Baradei, da Agência Internacional
de Energia Atômica (órgão ligado
à Organização das Nações Unidas
sediado em Viena), afirmou que,
entre os integrantes do "eixo do
mal", a Coréia do Norte é o que
está mais capacitado a produzir
armas nucleares.
Entretanto o presidente Bush
fez chegar a Kim Jong-il, o ditador
norte-coreano, a mensagem de
que Washington não guarda planos para invadir a fortaleza comunista, dona do quarto maior
Exército do planeta (cerca de 1,2
milhão de soldados).
Mas a Casa Branca sinalizou
também que "mau comportamento não será recompensado",
sugerindo que, para iniciar negociações bilaterais com os Estados
Unidos, desejo da Coréia do Norte, o regime comunista deve "demonstrar respeito à comunidade
internacional".
Quando descartam a via militar
para a questão norte-coreana, os
Estados Unidos estimulam comparações com a sua política para o
Iraque.
Um funcionário do governo
norte-americano tentou dar uma
explicação ao jornal "The New
York Times": "[Lidamos com"
um Estado irresponsável por
vez".
Segundo ele, Washington poderia adotar uma estratégia mais
dura para a Coréia do Norte depois de "resolvida a situação iraquiana".
A Casa Branca, no entanto, sabe
das diferenças entre o cenário iraquiano e o norte-coreano. Uma
ofensiva contra o país de Kim
Jong-il encontraria um adversário
militarmente mais poderoso do
que as forças de Saddam Hussein.
A Coréia do Norte, apesar de
seu isolamento e da grave crise
econômica, drena recursos para
oxigenar sua máquina bélica e é
uma exportadora de tecnologia
de mísseis balísticos.
A Coréia do Sul desponta como
outro fator contrário a uma solução militar para a ameaça norte-coreana.
Apesar das diferenças ideológicas, prevalece na opinião pública
sul-coreana a percepção de que
uma guerra traria graves conseqüências, como fluxo de refugiados do norte e importantes perdas econômicas.
A China e o Japão, de maneira
enfática, engrossam o coro de países refratários a uma guerra na
península coreana.
As duas potências asiáticas sabem que um confronto militar às
suas portas significaria instabilidade e reflexos negativos para
suas economias.
Trata-se, portanto, de um mosaico de fatores que garante a Kim
Jong-il um tratamento mais suave
do que o reservado pelos EUA a
Saddam Hussein.
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