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A FAVOR
"Choque" reduziu fosso, diz historiador
DA REPORTAGEM LOCAL
Terry Anderson é professor de
história contemporânea americana numa universidade do Texas.
Acredita que a ação afirmativa tenha defeitos, mas a considera necessária. Leia trechos de sua entrevista.
(JBN)
Folha - A decisão da Suprema Corte de junho do ano passado comprometeu a ação afirmativa?
Terry Anderson - Segundo a decisão, as universidades têm o direito de utilizar critérios étnicos para
diversificar seus corpos docentes.
O que a Suprema Corte negou foi
a possibilidade de, mesmo indiretamente, estipular-se cotas. Na
Universidade de Michigan, estudantes da maioria branca não tinham nenhuma vantagem inicial
dentro do sistema de pontuação,
que funciona como vestibular.
Folha - A população negra americana está hoje melhor só por causa
da ação afirmativa?
Anderson -Sem a ação afirmativa, ela estaria muito pior do que
está. A ação afirmativa complementou a legislação sobre direitos
civis aprovada nos anos 60. Em
muitos Estados não havia negros
policiais, negros no corpo de
bombeiros.
Folha - Uma boa lei de direitos civis não seria suficiente para a promoção da população negra?
Anderson - O que os partidários
da ação afirmativa sempre disseram é que o fosso educacional e
econômico entre as comunidades
branca e negra era tão grande que
apenas um "choque" poderia diminuí-lo. Poucos negros entravam nas universidades. Mesmo o
sistema de ensino secundário era
discriminatório, com boas escolas
nos bairros brancos e escolas
ruins nos bairros negros.
Folha - Por que não funcionou o
sistema de "busing" [transferência
por ônibus de crianças e adolescentes a escolas de outros bairros]?
Anderson - A medida foi adotada em 1974. Mas uma decisão
posterior da Corte Suprema disse
que crianças poderiam ser transportadas apenas para escolas de
dentro do mesmo distrito.
Folha - No Brasil, já houve uma
tentativa, no Rio, de cotas para a
população negra.
Anderson - Nos Estados Unidos,
o sistema de cotas foi considerado
inconstitucional. O que hoje existe é um sistema de "preferência".
Entre os muitos critérios que permitem o acesso à universidade, o
fato de pertencer a uma minoria
seria apenas mais um deles. Não
se entra na universidade somente
por ser negro. Mas a questão racial é levada em conta em muitas
universidades.
Folha - Não há um choque com o
critério do mérito?
Anderson - Sim, mas isso é relativizado porque as universidades
montaram mecanismos para detectar, já nas escolas secundárias,
alunos de minorias étnicas que sejam os mais capacitados.
Folha - Qual a desvantagem da
ação afirmativa?
Anderson - Basicamente, as tensões que ela gera, em períodos nos
quais a economia cresce pouco e
há poucas oportunidades para todo mundo. Quando o crescimento é maior, a tensão diminui. E há
o fato de também, por exemplo,
um estudante que não pertence a
uma minoria ficar desapontado
porque não conseguiu matrícula
em determinada universidade.
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