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AMÉRICA LATINA
Segundo a Defesa, missão de paz servirá como experiência em áreas urbanas para militares brasileiros
Haiti é treino para ação no Rio, diz Exército
ANDRÉ SOLIANI
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O envio de militares brasileiros
para a missão de paz da ONU no
Haiti servirá como um treinamento das Forças Armadas para,
eventualmente, enfrentar situações de repressão à criminalidade
no país, como no Rio de Janeiro,
segundo o Ministério da Defesa.
A ação em território haitiano,
que deve ser autorizada nesta semana pelo Senado, seria, de acordo com a pasta, uma experiência
na manutenção da ordem em situações que envolvem civis e grupos armados que atuam fora do
controle do Estado.
A expectativa também é admitida pelo Exército. "Quanto a dizer
que isso [o envio das tropas ao
Haiti] trará [experiência] para a
garantia da lei e da ordem internamente, é um objetivo que eu diria que pode ser alcançado", disse
o general Américo Salvador, 56,
que aguarda autorização do Congresso para assumir o comando
das tropas brasileiras no Haiti.
O Ministério da Defesa afirma
que, dos 1.200 militares que irão
ao Haiti, a maior parte (cerca de
750) teve de ser deslocada do Rio
Grande do Sul, para que os quartéis do Rio de Janeiro não fossem
desfalcados. Neste mês, duas unidades das Forças Armadas foram
atacadas por bandidos no Rio.
O governo fluminense recentemente negociou com o Palácio do
Planalto a participação do Exército no combate ao crime organizado na capital. Não houve acordo,
pois, apesar da oferta de Brasília,
as autoridades do Rio não quiseram assinar documento (obrigatório em situações do tipo) no
qual admitiriam "o esgotamento"
de sua "capacidade de ação".
No Haiti, as tropas devem fazer
operações semelhantes às que
realizaria no Rio, como patrulhamento, cerco a pontos importantes e controle do vaivém de pessoas e veículos. Para o caso do
Rio, a proposta da Defesa era usar
as tropas de forma ostensiva, com
tanques nas ruas e vias expressas,
além de ocupar favelas -onde
está o foco do crime organizado,
mas vivem milhares de cidadãos
alheios ao tráfico de drogas.
Estratégia no Haiti
Uma das preocupações da Defesa é conquistar o apoio dos haitianos, para que a tropa da ONU não
seja vista como uma força de repressão inimiga. Para cativar a
população, os militares prometem uma ação "cívico-social" no
Haiti, como distribuição de remédios e melhora da infra-estrutura.
O Haiti está em crise desde o começo do ano, quando rebeldes
avançaram contra a capital do
país (Porto Príncipe) e exigiram a
renúncia do presidente Jean-Bertrand Aristide. Ele diz que foi forçado ao exílio pelos EUA e pela
França.
A missão ao Haiti servirá também para os objetivos de política
externa do governo Luiz Inácio
Lula da Silva. Uma das principais
bandeiras externas do Itamaraty é
reformar o Conselho de Segurança da ONU, para conquistar uma
cadeira definitiva na instituição.
Atualmente, apenas EUA, Reino
Unido, França, Rússia e China são
membros permanentes do CS.
Para ascender a membro permanente do CS, de acordo com
diplomatas de diversos países, o
Brasil precisa chamar para si uma
maior responsabilidade nas ações
da ONU. As Forças Armadas consideram que a missão no Haiti
possa ser um passo decisivo para
isso. Será a primeira vez que o país
vai liderar uma força da ONU.
A responsabilidade maior, porém, não se refere apenas a mais
engajamento e participação nas
missões da organização; implica
maiores gastos.
A operação custará, no total,
pouco mais de R$ 150 milhões.
Quase um terço do valor, R$ 45
milhões, será usado na aquisição
de uma quantidade mínima de
equipamentos necessários, como
coletes à prova de bala, óculos de
visão noturna, geradores e aparelhos de purificação de água.
"É o mínimo, pois, pela própria
quantia disponível, não daria para comprar muita coisa. Além disso, não podemos retirar daqui [do
Brasil] equipamentos que fariam
falta", disse o general Salvador.
A ONU paga às Forças Armadas
de países que atuam em missões
de paz entre US$ 1.040 e US$ 1.200
mensais por soldado. E reembolsa
o país pelo desgaste dos equipamentos usados na operação. Dos
R$ 150 milhões estimados, o Brasil deve receber de volta entre R$
60 milhões e R$ 90 milhões.
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