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IRAQUE NA MIRA
Segundo especialista que foi assessor de Clinton para o golfo Pérsico, ditador tem "histórico de decisões bizarras"
"Só a força pode deter Saddam", diz analista
RODRIGO UCHÔA
DA REDAÇÃO
Todas as tentativas e as sanções
impostas para deter os planos expansionistas ou de desenvolvimento de armas de destruição em
massa de Saddam Hussein falharam. O único modo de realmente
detê-lo é a ação militar.
É isso que Kenneth Pollack defende em seu livro "The Threatening Storm: The Case for Invading Iraq" (a tempestade ameaçadora: os argumentos para invadir
o Iraque), publicado no mês passado nos EUA pela editora Random House.
Atualmente pesquisador do
Instituto Brookings, em Washington, Pollack foi diretor de assuntos do golfo Pérsico no Conselho de Segurança Nacional durante o governo de Bill Clinton (1993-2001), analista militar da CIA e diretor de estudos de segurança nacional do instituto de pesquisas
Council on Foreign Relations.
Seu livro foi recebido com estardalhaço pelos "falcões" da política
americana, servindo como argumento em várias das discussões
sobre que atitudes os EUA deveriam tomar em relação ao Iraque.
Segundo o perfil que Pollack
traça de Saddam, o ditador iraquiano precisa ser coagido a se
desarmar porque não é dado a
agir da maneira racional esperada
pelo mundo.
"Seu histórico mostra decisões
bizarras, julgamento pobre e erros de cálculo catastróficos", diz
Pollack. Leia, a seguir, a entrevista
dada à Folha por telefone.
Folha - A ida dos inspetores de armas da ONU ao Iraque vai solucionar a crise e satisfazer os EUA?
Kenneth Pollack - Não creio. As
experiências anteriores demonstram que os iraquianos aprenderam muito bem a esconder as
suas armas de destruição em massa. Os inspetores estarão perdidos
lá, sem saber onde procurar. Uma
inspeção bem-sucedida teria de
dispor de pelo menos quatro ou
cinco anos de trabalho.
O único modo de desarmar o
Iraque é convencer Saddam, à
força, de que ele tem de fazer isso.
Folha - Isso não poderia ser feito
com a imposição de sanções?
Pollack - Vimos nos últimos
tempos que a implementação
dessas sanções não enfraqueceu o
regime, e sim acabou levando
Saddam a controlar ainda mais os
recursos do país.
Ele controla hoje rotas muito lucrativas de contrabando de petróleo que passam pela Síria e pela
Turquia, por exemplo.
Nos anos 90, ele conseguia contrabandear não mais do que US$
300 milhões de petróleo por ano.
Hoje, ele lucra cerca de US$ 3 bilhões com a venda ilegal de petróleo, dinheiro usado para subornar
seus associados na Síria e na Turquia e, principalmente, para deixar os seus efetivos militares felizes e bem-comportados.
Folha - Em seu livro, o sr. descreve um Saddam com o qual não se
consegue negociar. Por quê?
Pollack -O problema com Saddam Hussein não é que ele seja
suicida ou irracional. O problema
é que a história o mostra como
um contumaz tomador de decisões erradas. São muitas decisões
bizarras, julgamentos pobres e erros catastróficos de cálculo.
Saddam é altamente agressivo,
não dá nenhum valor à vida humana e crê que, para alcançar seus
objetivos, tem de correr riscos
-o que ele está sempre disposto
a fazer.
Além disso, ele tem a tendência
de distorcer a realidade, o que
provoca em si a percepção de que
pode sempre vencer.
Se Saddam conseguir desenvolver armas nucleares, não tenho
dúvidas de que ele ameaçaria usá-las nos campos de petróleo do
Oriente Médio.
Ele teria poder para desestabilizar toda a economia mundial.
Folha - Por que muitos países, como França e Alemanha, não estão
tão assustados então?
Pollack - Os europeus têm as
mesmas informações que nós temos. Creio apenas que eles não
apresentaram corretamente o caso às suas populações.
Os EUA fizeram um trabalho
bem melhor em apresentar à população americana o perigo que o
Iraque representa hoje.
Folha - Mas a população americana ainda vai apoiar os ataques
quando começarem as baixas?
Pollack - Os EUA devem liderar
uma coalizão de países. A ação
deve ser rápida, com grande suporte aéreo, mas necessariamente
com o uso de tropas terrestres.
Não há como derrubar o regime
sem o uso de tropas.
Creio que, devido à fragilidade
das Forças Armadas do Iraque, o
grande uso de tropas fosse mais
necessário para evitar o caos pós-guerra do que para vencer as batalhas mesmo.
Folha - O que seria um Iraque pós-Saddam? Não haveria a situação
"ruim com ele, pior sem ele"?
Pollack - O problema do Iraque
hoje é a liderança de Saddam e sua
obsessão em adquirir um arsenal
nuclear. Esse é o ponto que não é
possível discutir.
Depois do fim do regime, creio
que tenhamos de estar comprometidos com a construção de um
Estado democrático, o que vai
além do que está sendo feito
atualmente no Afeganistão.
Mas não podemos impor o nosso tipo de democracia ocidental.
Temos de ajudá-los a construir a
sua própria democracia, levando
em conta as peculiaridades de seu
próprio Estado.
Outra tarefa importante seria
construir mecanismos de proteção para curdos e xiitas, que são
oprimidos pelos sunitas.
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