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Democracia na ilha dá
sinais de fragilidade
DA REPORTAGEM LOCAL
A pobreza é apenas uma das
ameaças à nascente democracia
timorense. A pacificação completa do território ainda é uma miragem, e a reconciliação após décadas de agressão mal começou.
Virtualmente nenhum dos implicados nos assassinatos de timorenses nos 15 dias que sucederam ao plebiscito de independência, em setembro de 1999, foi a julgamento.
Não há consenso sobre quantos
morreram na ocasião. Estimativas variam de cem a mil pessoas.
Mais 200 mil, de uma população
total de 800 mil, cruzaram a fronteira em direção à parte indonésia
da ilha. Com o ambiente de relativa tranquilidade, a maioria retornou, mas cerca de 50 mil permanecem exilados.
Apesar de alguns personagens
secundários terem sido levados a
julgamento em Timor, os grandes
envolvidos permanecem impunes na Indonésia. Entre eles, o general Wiranto, que chefiava as
Forças Armadas indonésias na
época, e o maior líder das milícias
integracionistas, Eurico Guterres.
Recentemente, também surgiu
preocupação de um front inesperado. Um grupo de veteranos da
Falintil, a guerrilha que liderou a
resistência timorense, recusou-se
a se integrar ao novo Exército do
país, como prevê a Constituição.
Reivindicam o direito de permanecer como milícia.
Foi necessária a intervenção
pessoal do presidente eleito, Xanana Gusmão, ex-líder da Falintil,
para contornar o problema. Mas a
incerteza persiste.
O sistema político do novo país
também passou por sobressaltos
recentemente, o que contribuiu
para aumentar as dúvidas. O regime é parlamentarista, mas com
presidente forte.
Xanana, notório pela teimosia,
será obrigado a conviver com outra personalidade forte, a do primeiro-ministro Mari Alkatiri, cujo papel na resistência à Indonésia
é igualmente histórico.
Ex-amigos íntimos, os dois agora são rivais. A ponto de Alkatiri
ter feito questão de declarar publicamente que votou em branco,
e não em Xanana, na eleição de 14
de abril em que o atual presidente
teve mais de 80% dos sufrágios.
Na semana passada, mais turbulência. O líder da União Democrática Timorense, partido mais
antigo da ilha, João Carrascalão,
renunciou a seu mandato no Parlamento, exigindo que uma nova
eleição seja feita, agora que o país
é independente.
A sugestão, com ampla repercussão na sociedade timorense,
não deve ser acatada pelas autoridades, mas tem o potencial de colocar em xeque a legitimidade do
sistema político.
(FZ)
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