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Redução dos arsenais nucleares
dos EUA e da Rússia será pequena
DA REDAÇÃO
Na última segunda, Washington e Moscou anunciaram a assinatura de um "histórico" tratado
de redução de armas nucleares
numa cúpula entre os presidentes
George W. Bush e Vladimir Putin,
que ocorrerá na próxima sexta.
Ambos concordaram em cortar
seus arsenais de armas estratégicas em cerca de dois terços.
Não faltaram elogios ao acordo.
Para Bush, ele "tornará o mundo
mais pacífico". Já Putin expressou
contentamento com os "esforços
conjuntos". Se, com efeito, politicamente, o tratado tem méritos,
seu efeito será irrelevante no campo geoestratégico, segundo especialistas ouvidos pela Folha.
Na esfera política, ele é importante porque revela que as superpotências da Guerra Fria conseguem debater questões delicadas
e chegar a um consenso. Também
"demonstra" à comunidade internacional que ainda existe certa
paridade entre elas embora, na
prática, isso seja fictício. Ademais,
o fato de que o novo tratado será
firmado em solo russo tem grande peso simbólico para Moscou.
No âmbito geoestratégico, contudo, ele quase constitui um retrocesso, pois, selando o acordo,
Moscou aquiesce indiretamente
ao fim do Tratado Antimísseis Balísticos (1972). Este era a pedra angular do esforço de controle de armas até que Bush resolveu relançar o projeto de construção de um
sistema de defesa antimísseis e
anunciou, em dezembro último,
que os EUA o abandonariam.
Segundo o novo acordo, até
2012, os EUA e a Rússia deverão
ter entre 1.700 e 2.200 ogivas estratégicas (de longo alcance). Hoje
Washington dispõe de 6.000, e
Moscou possui 5.500, de acordo
com o Departamento de Estado
dos EUA. Mesmo assim, do ponto
de vista geoestratégico, essa redução prevista é insignificante.
"O anúncio é ilusório, visto que
só engloba as armas estratégicas
imediatamente disponíveis. Com
isso, em 2012, os EUA ainda terão
entre 6.000 e 8.000 armas nucleares adicionais -armamentos estratégicos que precisam de tempo
para serem operacionais, armas
não-estratégicas (de menor alcance) ou peças estocadas. Já a Rússia
manterá seu enorme arsenal não-estratégico", explicou Bruno Tertrais, da Fundação para a Pesquisa Estratégica (Paris).
Além disso, algumas centenas
de ogivas utilizadas de modo concomitante já seriam suficientes
para deteriorar a atmosfera terrestre a ponto de tornar o planeta
virtualmente inabitável. E, como
o acordo não prevê a destruição
de todas as armas desmontadas,
elas poderão ser remontadas se
houver "necessidade geopolítica".
"Desde 11 de setembro último,
Bush exige flexibilidade para enfrentar "novas ameaças". Assim,
não quer destruir armamentos
que, para ele, poderão ser cruciais
no futuro", apontou Ole Holsti,
da Universidade Duke (EUA). Parece, portanto, que os americanos
conseguiram o que queriam em
troca de sua anuência a um tratado formal -uma exigência russa.
Moscou deve ter obtido compensações, como participar de alguns processos de tomada de decisão da Otan, para aceitar o acordo. De qualquer modo, a medida
é urgente para a Rússia, que, em
razão de dificuldades orçamentárias, não pode mais pagar a manutenção de seu arsenal.
(MSM)
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