|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para analista, guerra ao terror
atenua unilateralismo americano
DA REDAÇÃO
O sucesso da cruzada dos EUA
contra o terrorismo internacional
não poderá ser alcançado exclusivamente por meios militares. Ele
requer uma estreita cooperação
internacional em áreas civis, o
que obriga o presidente George
W. Bush a atenuar sua veleidade
de agir de modo unilateralista.
A análise é de Joseph Nye, reitor
da Kennedy School of Government, da Universidade Harvard
(EUA), que é um dos papas do estudo de relações internacionais,
fundou sua escola neo-realista e
escreveu, entre outros, "Understanding International Conflicts"
(entendendo conflitos internacionais) e "After the Cold War" (depois da Guerra Fria). Leia a seguir
sua entrevista à Folha.
(MSM)
Folha - A aliança militar ocidental
se enfraqueceu nos últimos anos?
Joseph Nye - Com o fim da
ameaça soviética, a Otan era fadada a ver seu papel político fortalecido em detrimento do aspecto
militar. No entanto ela ainda desempenha um papel militar na cena internacional. Isso não só nos
Bálcãs. Não podemos esquecer
que a Otan, amparada por seu potencial militar, tem um valor político crucial no que concerne a
criar estabilidade na Ásia central.
Folha - Muitos analistas acusam
os EUA de agir de modo unilateralista desde o início do governo de
Bush. O que o sr. pensa disso?
Nye - Os primeiros oito meses da
atual administração foram marcados por várias medidas unilateralistas, como o abandono do
Protocolo de Kyoto [que estabelece metas para o combate do efeito
estufa". Contudo, após os atentados de 11 de setembro, Bush buscou o apoio da ONU e procurou a
anuência de uma coalizão internacional à guerra ao terrorismo.
Quando a principal fase militar
desse esforço foi concluída no
Afeganistão, em dezembro passado, alguns analistas concluíram
que isso tinha sido feito unilateralmente. Como argumento em
meu novo livro, "The Paradox of
American Power" [o paradoxo do
poder americano", isso é um
grande erro porque o sucesso das
ações contra o terrorismo não poderá ser alcançado apenas por
meios militares. Ele requer uma
estreita cooperação em inúmeras
áreas civis. Com isso, Bush não
pode ser unilateralista demais.
Folha - Ainda há lugar para o
"soft power" [influência cultural e
ideológica de um país sobre os outros" num mundo em que o "hard
power" [poder militar e econômico" voltou a ser tão importante?
Nye - O "hard power" foi crucial
para derrotar um governo afegão
que abrigava terroristas, o do Taleban. Todavia ele não foi bem-sucedido no que diz respeito a pôr
fim às células terroristas da rede
Al Qaeda, que existem em cerca
de 50 países. Embora o "hard power" seja indispensável em parte
da guerra ao terrorismo, acreditar
que o "soft power" não interesse
mais é um erro imperdoável.
A observação da influência da
Al Jazeera, a rede de TV do Qatar
que ficou famosa na campanha
militar no Afeganistão, sobre as
opiniões e as atitudes de várias
populações do Oriente Médio
mostra que o "soft power" permanece essencial. Essas atitudes
afetam a posição de outros Estados no que se refere à cooperação
com os esforços internacionais.
Texto Anterior: Redução dos arsenais nucleares dos EUA e da Rússia será pequena Próximo Texto: Copa abre caminho para reaproximação Japão-Coréia Índice
|