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Países divergem sobre como retratar história
DA ENVIADA ESPECIAL
Nas duas pontas da distância
que separa Japão e Coréia do Sul
estão visões diferentes de uma
história que incutiu nos coreanos
um rancor profundo contra os japoneses e uma dificuldade destes
em descrever o que aconteceu.
No final do século 19, um Japão
recém-saído de mais de 200 anos
de isolamento iniciou sua expansão militar na Ásia. Os interesses
japoneses na Coréia foram reconhecidos após as guerras contra a
China (1894-5) e a Rússia (1904-05). Em 1905, a Coréia foi decretada um protetorado japonês. Em
1910, foi anexada, permanecendo
como colônia japonesa até 1945.
Nesse período, a população foi
forçada a adotar nomes japoneses
e a aprender a língua do colonizador. Protestos foram reprimidos
de forma brutal. Em 1º de março
de 1919, uma manifestação popular pela independência da península resultou na morte, pelas contas dos coreanos, de 6.000 pessoas. A data é hoje feriado nacional na Coréia do Sul.
Mais delicada é a questão das
chamadas "confort women" (mulheres de conforto), forçadas a
trabalhar em bordéis para soldados japoneses. A maioria das cerca de 200 mil asiáticas submetidas
a esse tratamento era coreana.
A escolha de palavras usadas em
livros japoneses de história gera
constantes protestos na Coréia do
Sul, além de outros países invadidos pelo Japão antes e durante a
Segunda Guerra, como a China.
Há livros que dizem, por exemplo, que a Coréia foi beneficiada
com a construção de ferrovias e
sistemas de irrigação. Outros descrevem o evento de 1º de março
como um distúrbio, sem mencionar o número de mortos.
Durante a Segunda Guerra,
muitos coreanos foram levados
ao Japão para trabalhar em fábricas. Hoje mais de meio milhão de
coreanos e seus descendentes vivem no Japão e reclamam de casos de discriminação.
Com a derrota na guerra, o Japão perdeu seus domínios na
Ásia. Em 1965, foram restabelecidas as relações diplomáticas com
a Coréia do Sul, e o Japão afirma
que saldou tudo o que devia. Na
ocasião, "a questão foi resolvida
no nível de nação para nação, mas
não no de nação para indivíduo",
diz Susumu Kohari, da Universidade de Shizuoka.
Primeiros-ministros japoneses
têm, ao longo dos últimos anos,
expressado remorso e pedido
desculpas pelos sofrimentos causados à Coréia do Sul nos anos de
colonização, como fizeram Keizo
Obuchi, em 1998, e Junichiro Koizumi, em 2001. Mas muitos sul-coreanos consideraram as palavras escolhidas fracas.
No Japão, há os que se opõem a
um pedido de desculpas, contestando o que chamam de uma visão "masoquista" da história, enquanto outros pedem que se chegue a termos mais conclusivos
com o passado.
(CKT)
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