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EUA
Presidente afirma que teria agido se soubesse que aviões sequestrados em 11 de setembro seriam usados "como mísseis"
Bush se defende de críticas e ataca oposição
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
O presidente dos EUA, George
W. Bush, tentou ontem defender-se das críticas e atacar a oposição
democrata em sua primeira aparição pública após admitir que foi
alertado, no dia 6 de agosto de
2001, sobre possíveis planos do
terrorista Osama bin Laden de sequestrar aviões comerciais do
país.
Em cerimônia em homenagem
a cadetes da aeronáutica na Casa
Branca, Bush afirmou que teria
agido de outra maneira se soubesse da natureza dos ataques que,
em 11 de setembro, usaram aviões
sequestrados como mísseis para
matar cerca de três mil pessoas
em Nova York e em Washington.
"Dizer o que o outro deveria ter
feito se tornou hábito em Washington", afirmou Bush, numa
crítica às lideranças democratas
que o criticam por ter demorado
oito meses para admitir a existência do alerta e por não ter agido
apropriadamente para impedir os
atentados. "Eu teria feito tudo em
meu poder para proteger a população norte-americana. Quero
que as tropas aqui saibam que levo muito seriamente meu trabalho de comandante em chefe."
O líder democrata no Senado,
Tom Daschle, disse ontem que, ao
pressionar Bush a revelar o que
sabia antes de 11 de setembro, seu
partido não está dizendo como o
presidente deveria ter agido, mas
sim "tentando assegurar que isso
nunca ocorra novamente."
Daschle tentou ontem moderar
as críticas a Bush ao reconhecer
que, apesar de ter sido alertado
pela CIA em agosto, o presidente
pode não ter tido acesso a outros
relatórios, feitos por agentes do
FBI nos Estados do Arizona e de
Minessota, indicando a possível
existência de terroristas em escolas de aviação nos EUA.
"Se isso é verdade, precisamos
entender por que essas informações não chegaram ao presidente", disse Daschle. "No entanto,
também precisamos saber por
que a Casa Branca demorou oito
meses para admitir que recebeu
um alerta da CIA."
Para o alívio de Bush, os editoriais dos principais jornais norte-americanos pouparam o presidente de críticas contundentes em
suas edições de ontem, preferindo
questionar, construtivamente, a
capacidade do FBI e da CIA de
coordenarem esforços e informações de inteligência. Os jornais
também identificaram um exagero na reação da oposição democrata. O "New York Times" lembrou que as comissões de inteligência da Câmara e do Senado receberam alertas semelhantes antes de 11 de setembro e não pressionaram o governo a agir nem os
repassaram à população.
No entanto, fica claro que a dinâmica dos poderes em Washington mudou desde quarta-feira à
noite, a seis meses das eleições
parlamentares que poderão mudar o controle do Senado. A oposição democrata perdeu o medo
de criticar Bush publicamente,
colocando fim à união partidária
que tem legitimado a reação militar de Bush e mantido índices inéditos de popularidade a ele.
Além disso, uma pesquisa preliminar CNN/Gallup, feita na quinta-feira, concluiu que dois terços
dos norte-americanos acham que
Bush errou ao não divulgar o alerta para a população assim que o
recebeu da CIA durante um briefing diário, em agosto passado.
Um terço dos entrevistados acha
que o episódio os faz avaliar Bush
de maneira menos favorável.
Além de dizer que o alerta recebido em agosto era vago e dizer
que a oposição democrata é oportunista, a Casa Branca parece ter
uma terceira estratégia para sair
dessa crise: vazar documentos de
inteligência favoráveis a Bush para neutralizar o estrago político.
Ontem, o porta-voz da Casa
Branca, Ari Fleischer, confirmou
a existência de um relatório, fornecido aos jornalistas por um
membro do governo, indicando
que Bush autorizou operações
contra Bin Laden dias antes de 11
de setembro. O documento poderia indicar que o presidente não
estava inerte e que preparava-se
para agir contra o terrorista.
O problema de Bush é que a Casa Branca parece ter perdido o
controle sobre o vazamento de informações sensíveis. Ontem, um
outro relatório, preparado por
um conselho presidencial em
1999, alertou o então presidente,
Bill Clinton, que Bin Laden poderia usar o sequestro de aviões em
missões suicidas contra alvos como o Pentágono. Essa revelação
indicaria que a idéia do uso de
aviões como mísseis não era tão
inovadora e surpreendente como
Bush e seus assessores hoje argumentam.
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