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Pesquisador nega epidemia de obesidade
GINA KOLATA
DO "NEW YORK TIMES"
Pergunte a qualquer pessoa: os americanos estão ficando cada vez mais gordos.
Campanhas publicitárias insistem nisso. E o mesmo se
aplica a funcionários do governo e aos cientistas de cujos dados eles dependem.
Mas Jeffrey Friedman, da
Universidade Rockfeller, argumenta que, ao contrário
da opinião popular, os dados nacionais não mostram
que os americanos estejam,
de modo geral, engordando.
Em lugar disso, diz ele, as
estatísticas demonstram claramente que, embora os
muito gordos estejam ganhando ainda mais peso, as
pessoas mais magras se
mantiveram estáveis.
Vale a pena esclarecer que
Friedman, pesquisador do
Instituto Médico Howard
Hughes e descobridor do gene da leptina -um hormônio liberado pelas células de
gordura-, não é gordo.
Como pesquisador da
obesidade, seria de esperar
que ele endossasse a opinião
dominante. Mas Friedman
se diz indignado pela aceitação do que ele vê como um
mito prejudicial, o qual encoraja as pessoas a acreditar
que, caso sejam gordas, a
culpa é delas.
Friedman aponta para
análises estatísticas das mudanças no peso corporal dos
americanos entre 1991 e este
ano, conduzidas por Katherine Flegal, do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde.
No extremo inferior da escala de distribuição de peso,
nada mudou. À medida que
a análise se move escala acima, começando das faixas
médias, temos pessoas entre
2,7 kg e 3,2 kg mais gordas,
hoje, do que eram em 91. Só
no caso dos morbidamente
obesos, existe um aumento
considerável no peso individual, da ordem de 11,3 kg a
13,5 kg, segundo Flegal.
Como resultado, a curva
de distribuição do peso corporal se alterou ligeiramente, para mais, com número
maior de pessoas ganhando
alguns quilos e cruzando a linha que os especialistas
usam para separar o peso
normal da obesidade. Em 91,
23% dos americanos se enquadravam na categoria
"obeso", e hoje 30% o fazem.
Mas o peso médio da população cresceu apenas entre
3,2 kg e 4,5 kg no período.
"Falar de estatísticas é uma
coisa, mas falar do que acontece com indivíduos é outra", disse Marion Nestle,
professora de nutrição e saúde pública na Universidade
de Nova York. "Todo mundo percebe que há mais gente com excesso de peso."
Friedman é uma figura improvável, no debate político
acalorado que vem sendo
travado quanto à obesidade.
A obesidade, diz, é um
problema. Os gordos são vítimas de humilhação e sofrem riscos de saúde. Mas
não ajuda que a extensão do
problema da obesidade seja
exagerada ou que os obesos
levem a culpa por serem gordos. "Antes de classificar a
situação como epidemia, as
pessoas precisam compreender aquilo que os números fazem e não dizem."
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