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IRAQUE OCUPADO
Ataque mata outro soldado em Bagdá; mortes de militares e cenário incerto derrubam nos EUA apoio à ocupação
Cresce nos EUA questionamento sobre guerra
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Passados 102 dias da queda de
Bagdá, cresce nos EUA o questionamento à operação militar no
Iraque. Se a vitória foi rápida -as
tropas chegaram à capital em menos de um mês-, o pós-guerra se
desenha como pesadelo.
Mais um soldado americano foi
morto ontem enquanto guardava
um banco de Bagdá, apesar de
duas operações na capital e arredores que acabaram com a prisão
de cerca de 1.200 pessoas e a
apreensão de armas e explosivos.
Os ataques de guerrilhas, as seguidas mortes de militares e a falta de perspectiva para o fim da
operação concorrem para fazer
despencar o apoio da opinião pública à operação, que foi maciço
antes e durante a guerra.
Levantamento do Pew Research
Institute mostra que caiu de 65%
(no início da guerra) para 23% a
parcela de americanos para os
quais o esforço militar está indo
bem. O Gallup detectou tendência
no mesmo sentido: o percentual
dos que pensam que "valeu a pena" fazer a guerra caiu de 73% para 56% em um mês.
"A opinião pública muda muito
depressa. Mudou muito desde
que a guerra foi declarada encerrada", afirma Bill Dobbs, da United for Peace and Justice, a principal organização pacifista de Nova
York. "Os americanos apoiaram a
guerra, mas acho que agora estão
começando a surgir pontos de interrogação. Parece haver mais
pressão sobre a administração
Bush, o que é bom", diz.
Aos poucos, a discussão chega à
imprensa americana. "Paz é o inferno: três meses após a queda de
Bagdá, os americanos ainda tentam impor ordem no caos", estampou em sua última capa a revista "Time". Sua principal concorrente, a "Newsweek", adotou
linha semelhante: "US$ 1 bilhão
por semana: o custo da paz".
O pior é que depois de essas revistas chegarem às bancas seguiu-se uma semana de péssimas notícias. Novos ataques fizeram a
quantidade de baixas superar o
número de mortos americanos
em combate na Guerra do Golfo
de 1991 -147. Com a morte de
ontem, a Guerra do Iraque já provocou a morte em combate de 149
soldados dos EUA.
"Agora está claro que temos de
deixar de apenas proteger nossas
tropas para combater ativamente
o inimigo e procurar Saddam
Hussein", afirma Kenneth Weinstein, do Hudson Institute.
Nesse ponto, aliás, outra má notícia da semana: Saddam pode estar mesmo vivo e atuante, segundo o próprio governo, que na sexta disse haver grande probabilidade de que uma gravação atribuída
a ele e difundida por TVs árabes
seja recente e autêntica.
Enquanto Saddam não aparece,
os militares americanos enfrentam crise interna e moral baixa.
Soldados foram à TV reclamar do
primeiro escalão do governo.
"Uma grande parte do pessoal
militar está bem irritada com os
civis que os colocam nessa posição difícil", afirma Carpenter.
Há ainda a questão financeira:
na última semana, o governo dos
EUA anunciou que o déficit do
Orçamento deste ano será 50%
maior que o previsto, chegando a
US$ 455 bilhões -e boa parte
disso se deve aos US$ 3,9 bilhões
gastos por mês no Iraque.
Também na última semana, a
administração Bush admitiu ter
usado um argumento incorreto
para justificar a guerra, o que certamente não ajuda a justificar o
custo e as mortes da operação.
Apesar desse cenário, Fred Ikle,
subsecretário da Defesa durante a
administração de Ronald Reagan
(1981-1989), ainda aposta no
apoio da opinião pública.
"Parece que o público americano vai apoiar o esforço adicional
que é necessário. As pessoas estão
desapontadas por não ter havido
um final fácil e rápido, e em alguns casos isso causa dor", disse,
em entrevista à Folha.
Tal situação reacende o movimento contrário à guerra, que
promoveu algumas das maiores
manifestações da história antes
do conflito. Na terça-feira, a United for Peace and Justice lança o
Centro Internacional de Observação da Ocupação, uma casa em
Bagdá que servirá para divulgar as
condições de vida dos iraquianos.
"Enquanto as condições pioram
no Iraque, as organizações pacifistas inauguram um projeto sem
precedentes", anuncia a entidade.
Se o centro conseguir seu objetivo, poderá surgir mais um problema para o governo -segundo
o raciocínio, inclusive, de gente
que não vê grandes sobressaltos
na operação atual. "As pessoas
nos EUA não vão ficar satisfeitas
se isso não for resolvido. As pessoas vão se preocupar se houver
um sentimento de que os iraquianos não estão melhores depois
desse trabalho todo", diz Jon Alterman, do Center for Strategic
and International Studies.
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