|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasileiros "formam" camponeses latino-americanos
DA REDAÇÃO
Não é só pela fama que o MST
brasileiro vem influenciando outros grupos latino-americanos.
Desde 1998, o MST é o anfitrião de
um seminário anual, organizado
pela Cloc (Coordenadoria Latino-americana de Organizações do
Campo), denominado "Curso de
Capacitação de Militantes de Base
do Cone Sul", do qual participam
diversas organizações camponesas latino-americanas.
O último seminário foi realizado em abril, em Foz do Iguaçu
(PR). Entre os participantes, havia
37 paraguaios, 14 argentinos e
cinco chilenos. Em outras ocasiões, em seminários realizados
no interior do Mato Grosso do
Sul, houve participação também
de bolivianos, costarriquenhos,
colombianos, cubanos, equatorianos, guatemaltecos, salvadorenhos, haitianos, hondurenhos e
mexicanos, entre outros.
A existência do seminário levou
grupos de ruralistas a protestarem contra o que chamaram de
"curso de guerrilha". "É uma espécie de exportação do know-how do MST", afirma João Bosco
Leal, presidente do MNP (Movimento Nacional dos Produtores).
Os dirigentes do MST dizem
que o grupo "não ensina nada"
nos cursos, que serviriam como
fórum de debates e troca de experiências. "Qualquer coisa que fazemos, os fazendeiros dizem que
é curso de guerrilha", reclama
Egídio Brunetto, coordenador nacional do MST baseado no MS e
membro da Secretaria de Relações Internacionais do grupo.
"Como é que vamos ensinar alguém a ocupar terra se isso é feito
há 500 anos, não fomos nós que
inventamos?", questiona ele. "O
curso é para debater coisas como
o neoliberalismo, a questão das
sementes transgênicas, a Alca."
A página do MNP na internet
destaca alguns trechos da apostila
do curso, com frases sobre ocupações, "desobediência civil" e "luta
revolucionária".
Uma militante do MST que participou de um dos seminários diz
que as frases foram tiradas do
contexto e que algumas dessas
idéias podem até mesmo ser compartidas por alguns membros do
movimento ou das organizações
internacionais, mas não fazem
parte do objetivo do curso.
Segundo Brunetto, a integração
latino-americana é um dos objetivos do MST, mas o grupo não
pretende exportar modelos para
os demais grupos. "O que nós
buscamos é levar solidariedade
para os outros. O que é que teríamos para ensinar para os bolivianos, por exemplo, que têm uma
história de luta muito mais antiga
que a nossa e que conseguiram
uma reforma agrária há 50
anos?", diz. Segundo ele, a próxima conferência internacional da
Via Campesina (ONG mundial de
defesa da reforma agrária), que
será realizada no Brasil no ano
que vem, servirá "para discutir a
integração latino-americana".
A Via Campesina é um dos
principais fóruns nos quais o intercâmbio entre as organizações
camponesas acontece. O MST é o
único representante brasileiro na
organização, que reúne também,
na América do Sul, grupos representativos como a Confederação
Camponesa do Peru, a Confederação Nacional Agrária, também
do Peru, a Confederação Sindical
Única de Trabalhadores Camponeses da Bolívia e a Federação Nacional Sindical Unitária Agropecuária, da Colômbia.
"A luta pela terra está se estendendo pela América Latina, e sem
dúvida o MST tem inspirado esse
movimento", afirma Rafael Alegria, secretário internacional de
Operações da Via Campesina.
"Mas cada um tem sua característica, ninguém precisa copiar o
MST", diz. (ROGERIO WASSERMANN)
Texto Anterior: Questão agrária: MST inspira sem-terra na América Latina Próximo Texto: Comportamento: Mercado "descobre" o homem vaidoso Índice
|