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COMPORTAMENTO
Filão dos heterossexuais metropolitanos pode chegar a 15% dos homens entre 25 e 45 anos das grandes cidades
Mercado "descobre" o homem vaidoso
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
A cada ciclo econômico, as
agências de pesquisa municiam
as agências de publicidade, que
convencem os anunciantes de
que um novo perfil de consumidor apareceu. Foram os yuppies,
nos 80. No auge da exuberância
irracional norte-americana, eram
os BoBos, os burgueses boêmios.
Agora, são os metrossexuais.
Metrossexual, ou "metrosexual" no original inglês, contração de heterossexual com metropolitano. Essa a sua definição: um
empreendedor bem-sucedido,
entre 25 e 45 anos, que vive nas
grandes cidades e se preocupa
com seu aspecto visual, se dedica
a essa preocupação e gasta com
ela, como fazem seus colegas gays
do mesmo extrato social.
Com uma diferença fundamental: o metrossexual é macho.
Ou, como disse à Folha Marian
Salzman, diretora executiva de estratégia da Euro RSCG em Londres e coordenadora do estudo
"O Futuro dos Homens", que popularizou o termo na mídia e ganhou as páginas do "The New
York Times": "Cada vez mais homens comuns estão começando a
apresentar qualidades metrossexuais mesmo sem saber".
O termo foi usado pela primeira
vez em 1994 pelo escritor gay
Mark Simpson, no artigo "Lá vêm
os homens do espelho", publicado pelo jornal britânico "The Independent". Passou anos na gaveta para ganhar força total nos últimos meses, muito por conta do
estudo da Euro RSCG e do rebuliço que ele causou no mercado de
produtos voltados à vaidade masculina ao declarar que a tribo pode unir até 15% dos homens desta
faixa etária nas grandes cidades.
Os metrossexuais lêem "Details", "GQ" e "Vanity Fair", revistas que dividem suas capas em
igual número entre homens bonitos e mulheres bonitas, usam roupas de grife, discutem as novidades da linha masculina da Clinique e são capazes de fazer um ranking com os cinco melhores "day
spas" de qualquer capital européia em questão de segundos.
Segundo a pesquisa, que ouviu
519 britânicos e o mesmo número
de norte-americanos, 49% deles
acham perfeitamente normal um
homem fazer limpeza de pele e
manicure e 39% aprovam a cirurgia plástica masculina.
O representante supremo é o jogador de futebol britânico David
Beckham, do Real Madrid, que
pinta as unhas, muda o corte e a
cor do cabelo como quem troca
de camisa no final do jogo, gasta
milhares de libras com produtos
de beleza e confessou já ter usado
algumas vezes as calcinhas da
mulher, a ex-Spice Girl Victoria.
Seu equivalente norte-americano é o ator Brad Pitt, casado com a
também atriz Jenniffer Aniston,
que planeja por semanas a posição exata de cada fio de seu cabelo
"despenteado" e é um dos maiores salários do cinema. "Hollywood, aliás, é um celeiro de metrossexuais", disse Salzman.
O mercado começa a se movimentar. A Condé Nast, a mesma
da "Vogue" e "New Yorker", planeja soltar nas bancas dos EUA
uma revista de compras só para
homens. O canal de TV paga Bravo vem exibindo há duas semanas
o "reality show" "Queer Eye for
the Straight Guy" (um olhar gay
para os caras héteros), em que
gays ajudam heterossexuais desleixados a virar metrossexuais.
E o território latino-americano,
Brasil e México à frente, é o próximo passo. "Queremos explorar o
fenômeno com a perspectiva latina", disse Marion Salzman. "É
surpreendente perceber o quanto
do que é considerado traço típico
do amante latino, como as boas
maneiras e o galanteio às mulheres, na verdade é metrossexual."
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